Pastoral da Juventude e a acolhida das juventudes LGBTQIA+

Seguimos, porque bem-aventurados são aqueles e aquelas perseguidos por serem quem são, por serem fiéis à verdade para a qual foram criados, porque nosso lugar à mesa não nos será tirado. (SERRA, 2019)

PJoteiros e PJoteiras

A Pastoral da Juventude no Brasil percorre, há quase cinquenta anos, um caminho de amor e serviço aos/às jovens como compromisso que brota do seguimento a Jesus de Nazaré.

O objetivo geral da PJ é despertar os/as jovens para a pessoa e a proposta de Jesus Cristo e desenvolver com eles/elas um processo global de formação baseado na fé, para formar líderes capacitados para agir na comunidade. Além disso, despertar uma atuação na própria PJ, em outros ministérios da Igreja e em seu meio específico. Mantendo o compromisso com a libertação integral da pessoa e da sociedade, levando uma vida de comunhão e participação, de modo que contribuam concretamente com a construção da Civilização do Amor. (ESTUDOS DA CNBB, N.76, 1998)

Esse objetivo geral e essa missão, a PJ vai fazendo junto às juventudes, na partilha do pão, no anúncio libertador do Evangelho, na denúncia das injustiças, na igreja em saída, na acolhida e inclusão de todos/as.

Ao sair somos provocados/as “a partir sem cessar, a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às periferias e aos confins” (Pizzoli apud LIMA, 2019). E a PJ caminha pelos confins rumo às galileias juvenis, é chamada acolher os/as jovens LGBTQIA+ (lésbica, gay, bissexual, transsexual, travesti,​ transgênero, queer,  intersexo, assexual), que por vezes são incompreendidos/as, subjugados/as, impedidos/as de viver e expressar a sua fé, quando não, exterminados/as.

Ser um/a jovem cristão/ã LGBTI+ é também​ conhecer o julgamento, a dor, o ódio, a incompreensão da família e de toda uma comunidade que deveria ser acolhida […] É estar exposto à violência institucional, que pode ser psicológica​ e, não raro, física das tentativas de “exorcismo”, das orações de “cura e libertação”, das “terapias de reversão”, há a violência do estigma, que leva à vergonha, ao medo, à culpa, ao silenciamento e à invisibilização. O fantasma do “pecado” ou o temor de ser uma “abominação” acompanha o/a jovem mesmo quando já expulso/a, ou se autoexilou de sua comunidade de origem, de sua família, das referências religiosas, dos símbolos sagrados e da experiência de fé em que foi socializada.

SERRA, 2019

Cris Serra, coordenadora da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBTI+, aponta ainda que o impacto da violência é tão grande, que o/a jovem por vezes é convencido/a de que carrega algo maligno e se crê indigno/a do amor de Deus e qualquer forma de amor. Crendo nisso, a pessoa LGBTQIA+, na tentativa de se salvar, deixa-se submeter – ou se submete espontaneamente – a todo tipo de mutilações, do corpo e da alma, chegando infelizmente ao suicídio.

Diante desta realidade, estar com as juventudes LGBTQIA+ em nossos grupos de base, é acolher por vezes o/a jovem ferido/a e sem esperança, é dar a mão, trazer para o meio, mostrar que ele/ela não está sozinho/a. A propósito, o Sínodo dos Bispos: os jovens, a fé e o discernimento vocacional reitera no ponto 150 que: “Deus ama todas as pessoas e, assim, faz a Igreja, renovando o seu empenho contra toda a discriminação e violência com base no sexo”. E continua:

Em muitas comunidades cristãs, já existem percursos de acompanhamento na fé de pessoas homossexuais: o Sínodo recomenda que se favoreçam tais percursos. Ao longo destes percursos, as pessoas são ajudadas a ler a sua história, aderir livre e responsavelmente à sua chamada batismal, reconhecer o desejo de pertencer e contribuir para a vida da comunidade, discernir as melhores formas para o concretizar. Deste modo, ajudam-se todos os jovens, sem exceção, a integrar cada vez mais a dimensão sexual na própria personalidade, crescendo na qualidade das relações e caminhando para o dom de si.

SÍNODO DOS BISPOS: Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional. Documento Final, 2019, n. 150.

Estar nesta galileia é ver a beleza e a diversidade da criação, ver que a construção da Civilização do Amor não se faz só. É sentir o amor se fazendo acolhida e escuta. O anúncio do amor que gera vida em abundância nos faz lembrar que: na mesa do Senhor os/as jovens LGBTQIA+ não serão afastados/as. 

PJoteiros e PJoteiras, busquemos ser fiéis a Jesus, sempre questionando as nossas atitudes. Santo Inácio de Loyola motiva que indaguemos: Que fiz? Que faço? Que farei por Cristo Nosso Senhor? Essas indagações movem nossa atitude de acolhida e amor. Deus é amor! São João afirma e convoca: “Queridos, se Deus nos amou tanto, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1 Jo 4, 11). Ele ainda vai mais além ao dizer que: “se alguém diz que ama a Deus mas odeia o próprio irmão, mente; pois se não ama o irmão que vê não pode amar a Deus a quem não vê” (1 Jo 4, 20).

É na busca de ser fiel aos ensinamentos de Jesus e sempre mais capaz de amar, que a Pastoral da Juventude acolhe os/as jovens LGBTQIA+, sendo os nossos grupos de base como um bálsamo nas feridas daqueles e daquelas, que por muitas vezes, são impedidos/as de serem quem são em suas comunidades de fé. Todos/as são nossos/as irmãos e irmãs. Todos, todas, todes devem ser amades e acolhides. O desejo e o compromisso de vida e vida em abundância (Jo 10,10) para todes é o imperativo do amor. 

Grande Abraço!

Marcos Regazzo
A serviço da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude​ pelo Regional Sul 2 – Paraná 
Luis Duarte
Comissão Nacional de Assessores/as da Pastoral da Juventude​ 

Referências 

  • CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Marco Referencial da Pastoral da Juventude do Brasil. Coleção Estudos da CNBB número 76. São Paulo: Paulus, 1998. 
  • JURKEWICZ, Regina Soares (org). Teologias fora do armário: teologia, gênero e diversidade sexual. Jundiaí – SP: Max editora, 2019.
  • LIMA, Luís Corrêa. O Papa, a santidade e os LGBT. Revista do Instituto Humanista Unisinos. 2019. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/588826-o-papa-a-santidade-e-os-lgbt>. Acesso em: 30.jan.2020. 
  • MACHADO, Ricardo. O Impacto dos gestos concretos de acolhimento de Francisco para a comunidade LGBT+. Entrevista especial com Cris Serra. Revista do Instituto Humanista Unisinos. 2019. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/592551-o-impacto-dos-gestos-concretos-de-acolhimento-de-francisco-para-a-comunidade-lgbt-entrevista-especial-com-cris-serra?fbclid=IwAR0pjBeRs6v-3SuCrUYgu55EFvt9Uko3bFhemijPxX-Bd2yg9U2_AQT6hPw>. Acesso em: 30.jan.2020.
  • XV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS. Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional. Documento Final. Brasília: Edições CNBB, 2019.

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