O Grito dos Excluídos: Qual é o Grito das Juventudes?

O Grito dos Excluídos e Excluídas é um conjunto de manifestações e processos populares que ocorrem desde o ano de 1995, ao longo da Semana da Pátria, que culmina no dia 07 de setembro, dia da Independência do Brasil. Como em todos os anos gritamos “Vida em Primeiro Lugar”, com o lema “Basta de Miséria, preconceito e Repressão! Queremos trabalho, terra, teto e participação”.

Nada melhor do que esta data para refletir sobre a soberania nacional, que é o eixo central das mobilizações do Grito. Nesta perspectiva, o Grito se propõe a superar um patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa e de participação, colaborando na construção de uma nova sociedade, justa, solidária, plural e fraterna. O Dia da Pátria, além de um dia de festa e celebração, vai se tornando também em um dia de consciência política de luta por uma nova ordem nacional e mundial. É um dia de sair às ruas, comemorar, refletir, reivindicar e lutar. O Grito é um processo, que compreende um tempo de preparação e pré-mobilização, seguido de compromissos concretos que dão continuidade às atividades.

Neste ano, o cenário que acolhe o 26º Grito dos Excluídos e Excluídas é bastante complexo e dramático. Não apenas por conta da pandeia que assola todo o mundo, mas que vêm nos colocando nas primeiras posições de contágio e mortes, mas porque ela nos revela inúmeras fragilidades que afetam diretamente a vida do povo, sobretudo dos povos tradicionais, e também da juventude.

A ameaça contra a vida é constante em suas diversas formas, entre elas, as mais evidentes: a da violência do Estado e de suas instituições com os altíssimos índices de assassinato de jovens negros, pobres, periféricos, favelados; a violação dos direitos básicos como água, moradia, saúde e educação de qualidade, lazer, cultura, trabalho, transporte. O que fomenta o crescimento de uma economia elitista e exclusivista que produz uma minoria dos «ricos cada vez mais ricos» e a crescente miséria, inchando as periferias e jogando uma multidão de seres humanos no olho da rua, com consequências sociais dramáticas e assustadoras.

Não podemos fechar os olhos a realidade, o Brasil tem mais de 13 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema, este número vem crescendo durante a pandemia. O preconceito de gênero vai do feminicídio à uma menor remuneração das mulheres, que são minoria nas posições mais altas na hierarquia das organizações. É também uma das principais causas de assassinato e suicídios de pessoas LGBT(s), sobretudo de transexuais excluídos/ as ou com acesso restrito ao mercado de trabalho. Para conter a reação dos miseráveis, ou daqueles/as que defendem a superação da desigualdade social e do preconceito, a repressão do Estado é avassaladora.

Cartaz do 26º Grito

O 26º Grito dos Excluídos quer pautar também nosso direito ao trabalho digno, vendo que o trabalho informal abrange 41,1% da população economicamente ativa, o que equivale a 38,4 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE. O desemprego que estaria na casa dos 12% (13 milhões) no início do ano, sendo que 5,5 milhões são jovens entre 14 e 24 anos.

Quer pautar também o direito à terra, os dados da Oxfam Brasil mostram que 45% de toda a área rural do país estão nas mãos de somente 0,91% de proprietários. Enquanto estabelecimentos com menos de 10 hectares e que estão em posse de 47% dos estabelecimentos rurais representam apenas 2,3% da área rural brasileira. Nesses poucos hectares de terras, as atividades de aproximadamente 4,4 milhões de famílias são responsáveis pela renda de 70% da população que vive no campo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6,5 milhões de jovens entre 18 e 32 anos vivem no campo. Esta dinâmica de expropriação e concentração fundiária tem afetado drasticamente a vida da juventude que muitas vez são também forçados a saírem de suas terras para procurar melhores condições de vida, contando com a falta de políticas públicas para a juventude rural.

Quando falamos em teto, dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam que o déficit por moradia cresceu 7%, entre 2007 e 2017, e em 2019 é de 7,78 milhões de casas. A redução no orçamento do programa Minha Casa Minha Vida revela que o auxílio para este fim fica cada vez mais difícil. Devemos ressaltar que a imensa maioria de quem vive nas ruas são homens. Do total dessa população, 82% é masculina. De toda a população masculina, a maioria é jovem: 15,3% são homens na faixa etária dos 18 aos 25 anos. A faixa da idade com o maior número de homens em situação de rua é a dos 26 aos 35 anos, com 27,1%. Já a população feminina representa os outros 18% do total de pessoas que vivem em situação de rua. A maioria das mulheres também é jovem e está nas ruas com idade menor do que a dos homens: 21,17% delas têm entre 18 e 25 anos e 31,06% têm entre 26 e 35 anos.

A participação é um elemento primordial para transformar a realidade. Precisamos nos reorganizar, a participação popular é a nossa aliada nesse processo. Temos que denunciar as estruturas injustas e opressoras, reinventar o modelo de desenvolvimento que só nos explora, promover mais e mais espaços para diálogos, trocas e construções coletivas. Ocupando os espaços públicos, exigindo a garantia e a universalização dos direitos básicos, anunciando esperança de um mundo justo e fraterno. Não há democracia sem participação, em todos setores da sociedade.

 A juventude precisa estar totalmente inserida nesse processo, dar o Grito é denunciar e anunciar, é deixar ecoar não só as palavras mas a vontade de mudar aquilo que nos mata, nos fere e nos arranca ou priva de direitos. A solidariedade não pode ficar apenas na ajuda mútua e generosidade, mas é preciso que se transforme em luta por direitos, pela construção de um Estado forte, capaz de enfrentar e buscar soluções para as questões sociais, pandemias, epidemias, enchentes, estiagens e outros acontecimentos que possam surgir.

Neste tempo, nesta pandemia, queremos gritar, e sobretudo organizar as esperanças para minimizar os impactos da pandemia na vida da juventude, na vida do povo, e também planejar os passos. Estamos em ano eleitoral, muitas candidaturas de uma juventude comprometida com a vida, vem despontando e nos motivando a mudar.

Mas diga aí, quais são os Gritos da Juventude??

Robson Oliveira, coordenador nacional da PJ pelo Regional Sul 1. 

Postagens relacionadas

Leave a Reply

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.