O Projeto Cartas de Amor à Pastoral da Juventude faz parte do caminho preparatório para o 13º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude, que acontecerá em janeiro de 2022 na “Ilha do Amor”, São Luís-MA. Este encontro acontece dentro do processo de preparação para a festa dos 50 anos da PJ no Brasil, que será em 2023.

Serão lançadas 13 cartas de amor, escritas por pessoas que são grandes referências para todas e todos nós da PJ, pessoas que marcaram a vida da PJ, por quem nós temos imenso amor, admiração, gratidão e respeito, pois sabemos que só nos foi possível chegar até aqui, porque muitas e muitos doaram suas vidas à nossa vida, doaram suas vidas a nos acompanhar, nos subsidiar, nos fazer cada dia mais corajosos/as, resistentes, destemidos/as e coerentes. A nossa celebração do 13o ENPJ e a festa dos 50 anos, só serão possíveis porque muitas pessoas marcaram nosso caminho do amor que é revolucionário e divino.

Leia a nona carta abaixo ou baixe em pdf aqui. Divulgue em seu Grupo e com as pessoas que você conhece.

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A mulher forte que habita em mim, saúda mulher forte que habita em você!

Peço licença aos/as jovens, assessores/as, coordenadores/as e lideranças da Pastoral da Juventude. Vim-lhes abrir meu coração…
Em 2017 no solo sagrado da comunidade Nossa Senhora do Repouso, paróquia São Cristóvão da arquidiocese de São Luís, fui lançada como semente de esperança na base do Cálice Novo. Rapidamente, apaixonei-me pela mística e espiritualista pjoteira, assim se iniciou minha caminhada na pastoral que acolhe, escuta, caminha de mãos dadas, não faz distinção, festeja a pluralidade, reza cantando, se veste com bandeiras inspiradas no sincretismo religioso, uni diversos rostos e principalmente; se move pela força do Espírito para viver o evangelho seguindo o jovem Jesus de Nazaré.

Na ciranda da vida embalada pelo comprometimento profético/solidário junto a teologia da libertação a opção evangélica pelos pobres, chama novas mulheres e novos homens a lutar pela defesa da vida dos oprimidos. Edificando uma fé não comodista restrita somente a quatro paredes, mais sim, uma igreja viva em saída a serviço da população sofrida, explorada, marginalizada, com fome e sede de libertação. A PJ apresentou-me esses fatos sociais e eclesiais, iluminou meus pensamentos, sensibilizou meu olhar ao próximo. Ademais, as juventudes presentes na base/comunidade fazem parte desse contexto, sofrem com as estruturas injustas, logo; animados/as pela fé, conduzidos/as pelo Jesus peregrino, precisamos construir coletivamente de mãos dadas a civilização do amor. Crê que o Reino de Deus é possível aqui na terra, me move.

O sábio Leonardo Boff fala que o segmento de Jesus não é mera imitação, mas prosseguir sua obra, perseguir sua causa e conseguir sua plenitude. Quando abrimos o coração e deixamos o Espírito Santo habitar, permitimos que Deus nos use como instrumento para suas obras. Na certeza de sua ação sobre meu caminhar, vivenciei momentos inesquecíveis e transformadores. Participei de três missões jovens; cada uma me trouxe um aprendizado diferente, ambos divinos. Sai do conforto da minha fé comodista para ir de encontro ao Cristo que habita no próximo em lugares periféricos/rurais/distantes, com realidades sofridas – onde falta educação, saneamento básico, posto de saúde e tantas outras políticas públicas -, fui recebida em comunidades que com o pouco que tinham, não mediram esforços para acolher quem lhe visitava. Praticar a evangelização pé no chão transbordou – me, foram momentos intensos de escuta, cuidado, amor, respeito, cumplicidade, aprendizado, Cristo fazendo morada em mim.

A Pastoral da Juventude é sem dúvidas, uma escola da vida responsável pela formação de seres humanos comprometidos/as com as causas proféticas e libertadoras. Muito do que sou hoje é graças a PJ, a mesma está no meu projeto de vida, é parte importante na minha caminhada, por ela meu coração se alegra, minhas forças se renovam. Gratidão por cada ciranda, ofício, encontro, romaria, DNJ, momento orante e principalmente; obrigado pelas pjoteiras/os que são verdadeiros presentes em meu caminhar – não citarei nomes, sei que irão se identificar em minhas palavras, amo vocês, novamente muito obrigado. Que o nosso solo fértil sagrado se transforme cada vez mais em um jardim colorido, diverso, perfumado, com frutos doces e ricos em amor, resiliência, respeito, cuidado, dignidade.

Peço em minhas orações que a Negra Mariama cubra com seu manto sagrado a juventude, que o Jesus jovem profeta peregrino presente nessa história jubilar continue caminhando conosco e sob a luz de Deus junto ao Espírito Santo. Amém. Axé. Awerê. Aleluia. Florescer. PJ.

Débora Maria de Andrade Santos
Coordenadora do grupo de Base Cálice Novo.
Arquidiocese de São Luís/MA

Leia a oitava carta abaixo ou baixe em pdf aqui. Divulgue em seu Grupo e com as pessoas que você conhece.

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“Acima de tudo vale agradecer ao Espírito Criador pelos 50 anos da Pastoral da Juventude, pois perdurar por meio século, atravessando tantas transformações ocorridas no mundo, no Brasil e na Igreja só pode ser adequadamente entendido pela ação do Espírito de vida que sempre suscita entusiasmo, perseverança e vontade de levar avante a mensagem de Jesus como a Pastoral levou e quer levar aos jovens de hoje.

Quando penso nos desafios que virão dada às mudanças em nossa história, do Brasil e da Humanidade, mudanças que podem exigir de vocês decisões com graves consequências para o futuro comum, me encho de esperança. Os tempos são dramáticos, claramente expostos pelo Covid-19 a ponto de o Papa Francisco afirmar: “estamos todos no mesmo barco; ou nos salvamos todos ou ninguém se salva”.

Creio que vocês são portadores de esperança de que todos nos salvaremos, pois, como se diz na carta-convite, vocês estão ancorados no que há de mais forte e invencível que é o amor. Ele não é apenas uma energia humana. Ela é também uma energia cósmica, poeticamente cantada por Dante Alighieri ao terminar cada cântico de sua Divina Comedia: “l’amore che move il sole e l’altre stelle”: “o amor que move o sol e as outras estrelas” e eu acrescentaria “que move também nossos corações”. Esse amor os moveu por 50 anos e vai como nunca antes, mover os corações de todos vocês. Na verdade, só o amor salva. Quem tem o amor tem tudo.

Apraz-me citar, a esse propósito, uma das mais belas passagens bíblicas do livro da Sabedoria: “Tu amas, Senhor, todos os seres e nada detestas do que fizeste; se odiasses alguma coisa não a terias criado; a todos poupas porque te pertencem, oh apaixonado amante da vida” (Sab 11,24.26). Um “Deus apaixonado amante da vida” não vai permitir que todos nós acabemos numa tragédia sócio-ecológica por causa de nossa falta de cuidado para com a natureza e por nossa irresponsabilidade.

Vocês devem ser os portadores e testemunhas deste amor invencível e eterno. Para reforçar a missão salvadora do amor transcrevo-lhes uma parte da Imitação de Cristo que canta o amor, com tanto entusiasmo que se emparelha com o cântico de São Paulo na Epístola aos Coríntios. Diz o texto que eu mesmo traduzi do latim medieval: “O amor tende sempre para as alturas e não se deixa prender pelas coisas que puxam para baixo. O amor deseja ser livre e isento de amarras que lhe impedem amar com inteireza. Nada mais doce do que o amor, nada mais forte, nada mais sublime, nada mais profundo, nada mais delicioso, nada mais perfeito ou melhor no céu e na terra” (Livro Segundo, capítulo 5).

Se imbuírem a vida com essa energia tão poderosa e transformadora, não há ameaças que possam assolar a nossa querida Mãe Terra e a seus filhos e filhas. Esse amor era pleno em Jesus ao nos revelar a proximidade de Deus, especialmente àqueles que se julgavam perdidos. Éramos nós que sempre buscávamos a Deus, e eis que agora por Jesus é Deus que nos busca a nós e nos quer íntimos dele, independente de nossa condição de bons ou maus, simplesmente porque nos ama e tem infinita misericórdia. Essa proximidade amorosa e misericordiosa de Deus Jesus chamou de Reino. Interiorizem essa boa notícia, esse verdadeiro evangelho e deem testemunho dele em todos os momentos e lugares e a todos que encontrarem pela vida afora.

E mais não digo. Depois da mensagem de Jesus simplesmente calamos reverentes e agradecidos. Unamo-nos na alegria dessa proximidade de Deus. Que 50 anos sejam apenas um momento de celebração por todo um compromisso que continuará com fé, esperança e com esse amo que a carta-convite tão bem exaltou. Sigam com coragem, esperança e amor”.

Do companheiro de caminhada no seguimento de Jesus,

Leonardo Boff

Leia a sétima carta abaixo ou baixe em pdf aqui. Divulgue em seu Grupo e com as pessoas que você conhece.

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Como falar de amor, ou para o amor em situações de escandalosas experiências e manifestações de dor, gestadas e alimentadas nos mais diferentes cenários da sobrevivência humana?

É nesta realidade, por muitas vezes enlouquecedora, que manifesto amor à minha história, à PJ e à minha mãe: Eunice Miranda de Souza, vítima do projeto genocida do governo federal brasileiro, executado através da crise sanitária do COVID19.

Reconhecer a minha história e daquela que me gerou, é identificar na Pastoral da Juventude a constituição da identidade social e da configuração do meu lugar no mundo. Foi na PJ, que um fator importante da sobrevivência cidadã humana, comigo aconteceu: o reconhecimento de ser quem se é.

Dentre as tantas experiências, eu, uma mulher (na época) adolescente e cristã,  chegou à comunidade de vivencia de fé, buscando por um modelo de vida que nunca seria meu e nem da minha família. Foi neste lugar que senti a acolhida incondicional e fundamental para minha sobrevivência em um mundo difícil e com realidades desafiantes e interpeladas pelas desigualdades sociais. Neste caso, quando falo em reconhecimento, estou dizendo de uma dimensão em que o olhar da outra pessoa, pode gerar autoestima, confiança e valorização. Mas também pode intensificar em nós a incapacidade de autoaceitação, que interfere de maneira punidora e cruel no julgamento de ser o que se é.

Para a minha história, tudo se transforma, depois de ter a PJ fazendo parte de mim e eu fazendo parte dela. Importante dizer aqui, que a causa antecede a discípula. Ou seja, o que deu novo sentido a minha existência não tinha como centro da ação a PJ na perspectiva organizacional, mas tinha as belezas e dores de ser parte de um grupo de jovens, aquele lá da comunidade, que se reunia em uma sala depois da “missa da 10”. Mas que hoje, pela causa da vida da Juventude, identifico nos processos de organização, a sustentabilidade de poder continuar a missão.

Depois de mais de 25 anos de chegada nessa comunidade de jovens, o reconhecimento que falei incialmente foi gerando em mim, aquilo que eu precisava para ser plenamente humana nas minhas experiências e que me acompanham: coragem e superação para estar onde estou. Estou preparada para estar nos lugares e espaços em que faço morada hoje: nas dinâmicas do trabalho profissional, nas relações e no lugar social e político que estão caminhando lado a lado com a Palavra, a coerência e a ética do cotidiano. Sinto-me honrada e capaz de Ver, Rever e Trans-ver na PJ, processos e estruturas de coordenação, o que chamo de capacidade gestacional e estruturante, de uma pastoral que investe incansavelmente e corajosamente nos processos de aprendizagens transformadoras.

O caminho do reconhecimento interno e externo me colocou em um lugar de Poder, que não me causa mais o medo que paralisa, muitas vezes estruturados em modelos patriarcais de existir. Este poder que está relacionado com potências e vulnerabilidades, luzes e sombras, e sobretudo esperanças e frustrações, fazem de mim, esta mulher que escreve esta carta de amor, de reconhecimento.

Foi na PJ que o belo (concepção estética da arte), a mística da dança e das boas músicas, e a capacidade intelectual de interpretar e sistematizar, compuseram na sua síntese: os processos de formação que pude receber de lideranças jovens, comunitárias e populares, assessores/as, religiosos/as, padres e bispos, como referenciais que ainda hoje são profundas influencias na minha vida.

Inicialmente eu falava do amor que quero declarar a minha mãe, especialmente por que ela foi importante para a PJ, e é reconhecida por isso. Primeiro, porque me deu a vida e cuidou para eu crescesse em segurança e com saúde. E depois, porque fez muitos esforços para me apoiar e incentivar na dedicação, muitas vezes de forma integral à PJ. Ela se orgulhava com a minha trajetória na pastoral e as consequências deste caminho.

Sigo declarando meu amor a PJ, porque foi neste lugar que fiz amigos/as (de uma vida inteira) que junto comigo fazem trajetórias. Foi nesta pastoral que uma das experiências mais poderosas que experimentei, a Casa da Juventude Pe. Burnier, a CAJU, influencia ainda hoje no que SOU. Foi naquela tenda física e afetiva, que ultrapassou as paredes físicas e que alcançaram processos orgânicos, que trago a memória de todos os antepassados humanos e sagrados a quem dedico e declaro este amor.

Eu reconheço, amei e amo a Pastoral da Juventude, que é o próprio amor. Sentimento que só tem “sentido” se está articulado com a amorosidade, capacidade de ser amor na realidade que nos faz duvidar da justiça e algumas vezes nos colapsa (mas, não é para sempre). Como cantava Mercedes Sosa “Tantas vezes me mataram, tantas vezes morri, entretanto estou aqui, ressuscitada”.

Te ofereço amor, mãe.

Te ofereço amor, PJ.

 

Alessandra Miranda

Leia a sexta carta abaixo ou baixe em pdf aqui. Divulgue em seu Grupo e com as pessoas que você conhece.

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Gente querida da Pastoral da Juventude,

Nesta carta de amor pela Pastoral da Juventude destaco o GRUPO DE JOVENS. Participei e vivenciei a vida do grupo de jovens nos anos 70 entre as montanhas do Espírito Santo, era o único grupo naquele povoado. Foi uma das experiências que mais marcou minha caminhada jovem. Uma experiência pessoal e grupal da descoberta do grupo, se tornou o grande amor da minha vida. Como jovem da roça, enfrentava tudo para não deixar de participar dos encontros. Minha alegria de poder encontrar com as amigas e os amigos, alimentar nossa amizade e estar juntos para refletir, rezar e os momentos das dinâmicas – brincadeiras que não podia faltar no final dos encontros. Voltar para casa feliz!

Foi na caminhada do grupo de jovens que fiz a descoberta vocacional; oportunidade de confronto, de questionar, de dialogar, de perceber nosso lugar no Projeto de Deus. Neste ambiente aberto e circular, convidava a viver os valores, me fez descobrir e amar a vida. Aos 20 anos de idade deixei meu grupo, os amigos, minha família, as montanhas para iniciar o processo da formação a vida religiosa missionária. Recordo que em 1979 em São João Del Rei/MG onde iniciei os estudos, as irmãs receberam um grupo de jovens de Venda Nova do Imigrante/ES que vieram me visitar. Fiquei surpresa com a visita, disseram que queriam conversar comigo. Fomos sentar longe das irmãs debaixo de uma árvore no pátio do colégio. O convite do meu grupo era que eu deixasse a congregação e saísse desse caminho que eles/elas julgaram que aquilo não era para mim. Os argumentos eram: o ambiente fechado e tudo mais… Depois de um bom tempo de conversas, eu respondi com um compromisso: “Não vou deixar que ninguém estrague minha vocação, prometo a vocês”.

Durante os anos seguintes, através da convivência com os jovens que fui descobrindo o que era realmente a Pastoral da Juventude e me encantando com a sua proposta. O meu foco foi sempre o grupo de jovens: ambiente mais atraente, lugar em que se encoraja a levar a vida no serviço do amor e a desenvolver no entusiasmo que o encontro com Jesus no cotidiano provoca naquelas pessoas jovens que vivenciam o grupo. Os próprios jovens, sujeitos e protagonistas do dinamismo grupal, cresce de acordo com a maturidade que as pessoas vão conquistando. É visível a vitalidade, a mudança dos interesses, das aspirações que vão sendo construídas por meio das relações e do diálogo construído neste espaço comunitário do grupo.

A experiência na Pastoral da Juventude foi entrando mais forte em mim quando assumi a missão na diocese de Ji-Paraná entre Mato Grosso e Rondônia nos anos de 1989. Encontrei uma Igreja missionária entre os pobres e migrantes cheia de grupos de jovens em todas as paróquias e novos grupos surgindo. Um bispo profético que acreditava, amava e se preocupava com a vida da juventude. Em 1993 fui convidada pelo bispo diocesano D. Antônio Possamai, para assumir a assessoria da Pastoral da Juventude diocesana. Neste tempo, tínhamos mais de 600 grupos de jovens esparramados pelas paróquias, uma verdadeira animação na caminhada da Igreja. A coordenação diocesana de jovens e assessoria e quando se encontravam para suas reuniões, era uma manifestação de prazer e alegria, amizade e entusiasmo pela missão, pela partilha da caminhada. Na experiência feliz, coordenadores/as e assessores/as descobrem juntos/as que a Pastoral da Juventude é fonte que alimenta o nosso grande amor pelos jovens, em quem se reflete a imagem de Deus, que queremos servir com total dedicação. Nos grupos se vive o prazer de estar com os jovens, se faz o exercício da liderança e do serviço pelo Reino. Como jovem irmã, vivi feliz entre os jovens, foi despertando o entusiasmo pela vida missionária consagrada e a fidelidade no chão dessa missão junto às juventudes.

Depois de bons anos de caminhada junto a juventude, fui chamada para o serviço em nível nacional no Setor Juventude/CNBB; num momento bem complicado da vida eclesial/pastoral. Viver o amor pela Pastoral da Juventude neste contexto e neste lugar tão amplo com tanta fragilidade me apavorava. E aí, fui abraçada! Veio uma onda de jovens e assessores da PJ. Quantos telefonemas me encorajando, animando para assumir este serviço! Não conseguia entender o que estava acontecendo. Por que estou aqui neste lugar? Por que sair de Rondônia? Na minha reflexão tinha uma certeza do amor de Deus que ama e cuida e, nos sustenta, e outra coisa que tinha certeza, a missão que é Dele. Fiquei tranquila para poder entender a missão naquele lugar. A primeira coisa que percebi era que a minha missão não era em Brasília, mas onde estavam os jovens. Por isso, parti para estar com eles/elas em seus espaços os encontros nos regionais, nas dioceses e nas paróquias com seus grupos. Foi a partir desta decisão que tive a oportunidades de encontrar e conhecer as realidades tão diversas das juventudes neste país. Seu jeito de ser e de se organizar, seus compromissos na caminhada eclesial e social, seus conflitos e desafios de serem jovens em suas realidades tão diversas neste país continental.

Neste período difícil da assessoria nacional encontrei na caminhada verdadeiros amigos e amigas: jovens, religiosas/os, assessores/as, padres, bispos, leigas/os, que estiveram ao meu lado nos momentos difíceis da missão e da compreensão da caminhada a quem sou muito grata.
A Pastoral da Juventude foi espaço de fortalecer um grupo de gente amiga e comprometida com a causa do Reino que alimenta sonhos e esperanças na vida das juventudes. E o encontro pessoal com Jesus de Nazaré, a adesão a suas opções e causas, e a seu Projeto de Vida alimentados/as pela Palavra de Deus e a cultivar juntos/as a mística com a oração e a espiritualidade que liberta em comunidade.
Nos anos 2010 a 2016, minha missão foi na Prelazia de Borba e Manicoré no Amazonas contribuir na caminhada pastoral. De modo particular, nestes 6 anos da missão foi marcado pelas visitas às comunidades ribeirinhas e pelos encontros com as juventudes deste lugar. Destaco, a que em Manicoré/AM onde era organizado a cada mês um encontro com os jovens, cerca de 120 pessoas jovens destas comunidades. Eram encontros na beira do Rio Madeira. Era uma cena linda ver os/as jovens chegando de canoa, barco. E a cena se repetia, “faça sol ou chuva” eles chegavam e passávamos sexta, sábado e domingo juntos e juntas com várias atividades: jogos e brincadeiras e nos divertíamos muito, dinâmicas e reflexões sobre a vida da juventude, celebrações e rezas para alimentar o caminho, muitas refeições preparadas pelos pais, mães, avós que na simplicidade da partilha vivíamos a experiência do Ressuscitado. Na cidade de Manicoré a experiência que mais recordo foi o DNJ, realizado nós 3 anos que estive nesta missão, realizado pelos grupos de jovens das duas paróquias: Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora Auxiliadora. Além do dia, havia uma programação durante a semana: noite de espiritualidade, tarde missionária com as crianças nas comunidades animadas pelos jovens, teatro da temática do DNJ na praça, noite de jogos, cinema, caminhada nas ruas com mensagens cantos e os gritos pela vida das juventudes e celebração eucarística com as duas paróquias juntas. A realização do DNJ animava demais a vida dos grupos de jovens, cada encontro chegava mais jovens querendo entrar e fazer parte da caminhada, era assim o grupo e o encontros de massa fazendo seus movimentos em favor da vida das juventudes.

Por estas experiências que acompanhei ao longo destes anos posso afirmar que os grupos de jovens são espaços determinantes para a vida mais feliz e plena das juventudes. E é deste lugar que podemos dizer que esta experiência de acompanhamento responsável e fiel que alimentamos uma pastoral comprometida com a realidade das juventudes. Também, digo que as ações nos grupos: músicas, teatro, esporte, acampamentos, retiros, momentos formativos, experiências de serviço aos mais pobres fazem a diferença no mundo porque prepara gente comprometida com o bem e com o comunitário.
Hoje continuo minha vida como missionária nas comunidades dos povos indígenas no Alto Rio Negro, em Pari Cachoeira/Amazonas na diocese de São Gabriel da Cachoeira. Retornei para acompanhar a vida dos grupos de jovens. No momento são três comunidades: Dom Bosco, São Sebastião e Bela Vista onde convivo com os jovens indígenas nas comunidades. Outro dia, um deles me disse: “Nós precisamos do grupo irmã, é no grupo que a juventude gosta de se reunir, é no grupo que conversamos o que a gente gosta e precisa. Precisamos de vocês para animar nosso grupo?”.

Por isso, digo com convicção que o caminho é amar aquilo que as juventudes amam e, com elas percorrer o itinerário de amadurecimento humano, tendo paciência e confiança, para estar junto com elas respeitando o seu caminhar. E digo ainda, os jovens, especialmente os mais pobres, são a nossa riqueza e o maior tesouro que Deus nos confia, é o lugar teológico, a terra santa onde Ele nos fala, convidando-nos a conversão para viver missão e neste lugar, renovar a aliança com Ele na construção do Reino.


Na fidelidade e no amor,


Irmã Angela Maria Falchetto

 

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Queridos/as e amados/as jovens,
Queridos padres, religiosos/as, bispos e assessores/as,

Nos passos de Jesus que amou os seus até o fim (Jo 13, 1), escrevemos essa carta para mais uma vez reafirmar nosso amor aos/às jovens. É uma carta carregada de amor.

Como humanidade temos atravessado um período muito difícil. E particularmente esse período está mais tenso em nosso país. A pandemia da COVID-19 tem ceifado milhares de vidas todos os dias. Em nosso país mais de três mil pessoas têm morrido todos os dias pela pandemia, por causa de uma cultura negacionista, pela demora e descaso do governo federal de pensar um plano de ação eficaz que garanta estrutura e insumos importantes para o combate à COVID-19 e também pela postura de muitos governos estaduais e municipais, que têm colocado a economia acima da vida.

A pandemia não afetou nossas vidas apenas pelas mortes que ela gera. Mas, também afetou porque ela acentuou a pobreza em nosso país e milhares de pessoas hoje passam fome. Além disso, a pandemia exigiu que, por amor à vida, nos distanciássemos e deixássemos de nos encontrar presencialmente.

Como Pastoral da Juventude, e como Igreja, sentimos o impacto de não podermos nos encontrar presencialmente. Os grupos de jovens em vários estados não têm se reunido presencialmente. Muitas foram e são as atividades que estavam previstas e que precisaram ser canceladas. Obviamente cancelar os encontros presenciais, sobretudo aqueles que reúnem muitas pessoas, é um ato de amor à vida. É por sermos seguidores/as de Jesus que veio para que todos/as tenham vida e vida em abundância (Jo 10, 10) que temos, como PJ, cancelado muitas atividades nas paróquias, Dioceses, Regionais e a nível nacional.

E é reafirmando nosso amor à vida que, não sem dor no coração, partilhamos o cancelamento presencial do 13º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude. Esse importante encontro que desde 1994 reúne jovens de praticamente todas as dioceses do país, estava previsto para acontecer em janeiro de 2021 e foi adiado para janeiro de 2022. Mas, o cenário cada dia pior da pandemia da COVID-19, os impactos da mesma na vida das pessoas, o crescente número de pessoas que estão na extrema pobreza, a impossibilidade de prever se seria viável e seguro realizar esse encontro e um profundo amor à vida nos leva a tomar essa difícil decisão de cancelar o Encontro.

No 13º Encontro, bebendo da cultura local, reafirmaríamos que é “na toada do grupo de jovens, o guarnicê da esperança”. Esse movimento seguirá acompanhando nossa ação pastoral. Não faremos o Encontro Nacional, mas cuidaremos dos grupos de jovens. Cuidaremos de nossas bases. É no grupo de jovens que acontece o centro de nossa ação pastoral e convidamos todos/as a cuidarmos dos grupos. Vamos cuidar dos grupos e como grupo vamos ajudar a cuidar de quem mais sofre.

No 13º Encontro Nacional da PJ queríamos “gritar a utopia do Reino em toda parte”, como nos ensinou o amado Hilário Dick, a quem homenageamos. Mas, a não realização do ENPJ não impedirá que gritemos. Pelo contrário. Estamos cancelando o encontro para gritarmos a utopia do Reino cuidando da vida dos jovens, dos pobres e dos grupos de jovens. Convocamos todos os grupos de jovens do país a realizarem ações de solidariedade em suas realidades. Não deixem de cuidar da vida e da saúde. Mantenham a união do grupo através de encontros virtuais, de cartas, de ligações. E unidos ajudem a cuidar da vida, sobretudo daqueles que mais sofrem em suas comunidades.

No 13º ENPJ iríamos suplicar “Senhor, dá nos sempre deste pão” (Jo 6, 34). Mesmo o encontro não se realizando presencialmente, vamos continuar com essa súplica: “Senhor, dá nos sempre deste pão” (Jo 6, 34). Dá-nos o pão da esperança. Dá-nos o pão da coragem para cuidar da vida. Dá-nos o pão da justiça que garantirá pão para todos e todas. Dá-nos o pão da justiça que garantirá vacina para todos e todas. Dá-nos o pão da utopia para cuidarmos dos grupos de jovens em nosso país. Dá-nos o pão da vida para cuidarmos da vida e da saúde.

Nossa profunda gratidão a PJ e toda a Arquidiocese de São Luís do Maranhão, ao Regional Nordeste 5, a tantos/as jovens e assessores/as que estavam comprometidos com a realização desse encontro e já estavam sonhando e trabalhando para que o mesmo acontecesse.

Que Maria, mãe da juventude, nos ajude a cuidarmos dos grupos de jovens e a nos mantermos firmes na Utopia e na Esperança!

Amorosamente,

Coordenação, Secretaria e Comissão Nacional de Assessoras e Assessores da Pastoral da Juventude.

Leia a quarta carta abaixo ou baixe em pdf aqui. Divulgue em seu Grupo e com as pessoas que você conhece.

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Esta carta é um compilado de muitos escritos e falas do Hilário para jovens, seus grupos, encontros, assembleias… Se juntam a voz do Hilário, na leitura desta carta, a voz de outras pessoas que, como ele, amam profundamente a Pastoral da Juventude e seguem o legado do padre Hilário Dick. São elas: Maria Flor, Raquel Pulita, Joaquim Alberto, Lúcia Dick, Irmão Joílson Toledo, Irmã Elsie Vinhote, Luis Duarte, Franciele de Oliveira, Thiesco Crisóstomo, Paula Grassi, Michelle Gonçalves, Chiquinho D’Almeida e Elayne Cardoso…

Aos e às de longe… aos saborosos grupos, netos e netas, às pessoas que como eu, são apaixonadas pela Pastoral da Juventude…

A paz!

Sei que vocês não precisam de palavras bonitas, mas sei que todos gostamos de ser reconhecidos nas coisas bonitas que fazemos, mesmo que digam – alguns – que não são significativas e nem incisivas. Todos, também os grupos, estamos envoltos num estranho inverno social, eclesial, comunitário, mas o que nos comanda é a esperança e a chegada da primavera. Como diz o Cântico dos Cânticos:

Veja, o inverno já passou!
Olhe: a chuva já se foi!
As flores florescem na terra,
O tempo da poda vem vindo,
E o canto da rola
Já se ouve em nosso campo
(Cant. 2, 11-12).

Sou Hilário Dick, padre jesuíta, 82 anos, pesquisador em juventude, ex-assessor do Setor Juventude da CNBB no começo dos anos 80. Estou mergulhado na Pastoral da Juventude desde 1974, cerca de 40 anos. Escrevi, viajei, dei palestras, trabalhei em Cursos, coordenei um Curso de Pós em Juventude etc. Pastoral da Juventude é a ação organizada dos jovens sendo Igreja, como protagonistas. Para mim, é uma vida, uma causa, uma proposta.

Várias vezes me solicitaram que escrevesse cartas para grupos, encontros, assembleias. Às vezes, olho no mapa onde vocês se encontram porque não temos o poder, ainda, de localizar todos e todas. É certo, contudo, que todos estamos no coração da esperança. Uma esperança que a juventude é e que a juventude quer.

Meus amigos e minhas amigas me dizem, algumas vezes, que dou mais importância aos de longe. Embora não seja verdade, a distância pode ser uma razão satisfatória. Afirmam os poetas e os/as amantes que para o amor não há distância. Fico pensando, então, no amor que Deus tem às pessoas. Embora não possamos estar em todos os espaços, a encarnação tem outro sabor divino. A distância e a presença existem, mas não existem. A convivência do amor e do perdão é um fato, mas também não é um fato.

Se é para dizer-lhes algo sobre Pastoral da Juventude falaria do documento 85, deixaria de lado certa insistência equivocada do Setor, falaria de grupo, de opções pedagógicas (sintetizam muita coisa), do divino no jovem, da necessidade de enfrentar o sistema neoliberal fora e dentro da Igreja e falaria da beleza do que vocês são até sem saber, da importância que têm na sociedade e na igreja, de mística vestida de amor ao pobre, da gana que mora em nós de ser feliz. Falaria que sempre precisamos renovar nosso amor e repetir o estribilho do amor que nos arrasta. Não importa que a situação não seja boa; o que importa é o que vamos fazer com ela. Os tempos são de resistência e resiliência. O inverno tem tempo marcado para morrer. A primavera vai florir como nunca, logo mais.

Não queiram salvar o mundo. Foquem nas coisas mais importantes, por favor.  Não percam tempo em coisas “laterais”. Fica claro todo dia que precisamos rezar mais, ser mais comunitários, mais eucarísticos. A reza, a vivência comunitária e a eucaristia na vida da gente nos dão mel e espanta o fel que corre o risco de se aninhar em nossas atitudes. Quem reza bonito, atrai. E vocês sabem rezar bonito, bebendo a palavra e a eucaristia.

Falaria que fora dos pobres não há salvação e ninguém tem o direito de nos roubar a busca da autonomia. A Igreja precisa do nosso jeito de ser Igreja. O grupo de jovens é o lugar da felicidade. Precisamos reaprender a falar e a viver o sabor do coletivo.

A Pastoral da Juventude, como organização, é uma das melhores escolas de formação na fé de quem se quer meter no crescimento da vida no seguimento de Jesus. A PJ tem uma proposta pedagógica, pastoral e teológica que está expressa de muitas formas.

A Pastoral da Juventude quer unidade e não uniformidade. Encontram-se experiências de trabalho com a juventude sem proposta, sem identidade. Os jovens não são todos a mesma coisa e isso precisa refletir-se na evangelização que se faz com eles e através deles. Entre os muitos aspectos dos quais se poderia falar, insisto no cultivo da memória. Diz o Papa Francisco que a memória é uma dimensão de nossa fé.  Não percam isso de vista.

Diria para não esquecerem que o Jesus dos Evangelhos não é de grandes voos místicos; a grande lição que Ele nos deu é a própria Encarnação. Não existe o Jesus dos Evangelhos se não pisarmos no chão da realidade, nos esgotos das periferias. O Papa Francisco insiste no “cheiro de ovelhas”, isto é cheiro de pobre, de dor, de solidariedade. Não somos cristãos insistindo demais nos Aleluias e nos Améns. Não deixem de ler a maneira como Jesus é apresentado em “Civilização do Amor – Projeto e Missão”. Para seguidores de Jesus não valem as coisas pequenas. O convite será sempre de irmos para águas mais profundas.

Irmãos e irmãs, netos e netas… Temos que aprender que nos momentos de turbulências, precisamos ser mais astutos e mais ágeis. A turbulência acompanha os profetas e também as instituições que aceitam viver o profetismo. A astúcia juvenil vai vestida de crítica e sabedoria, por outro lado, nada mais ágil do que uma pessoa que reza de fato. Os bispos da América Latina disseram que a profecia depende da juventude, é um compromisso do qual vocês não podem abrir mão. Não se esqueçam que o profeta ou a profetisa precisam de coragem e mel. Coragem para enfrentar os turbilhões, com análises de conjuntura radicais, e mel. Mel para distribuir vida para o povo. Ninguém de nós suspira por fel, porque no fel diversas instituições já são especialistas e o fazem criando ovelhas submissas e não cabritos que enfrentam as montanhas. A juventude suspira por mística, profecia e amor à vida.

Meu coração marca-passado está com vocês. Sejam eucarísticos, bíblicos, misericordiosos com vocês mesmos/as, seguidores de um Jesus que deu a vida pela utopia da Vida. Não deixem nunca de voltar ao amor primeiro.

Quereria poder falar mais, mas é o que posso neste momento. Beijos sinceros de muito amor.

Deus, Pai e Mãe esteja com vocês, seguindo os passos da Morena de Aparecida e de Guadalupe.

Padre Hilário Dick, sj

Leia a terceira carta abaixo ou baixe em pdf aqui. Divulgue em seu Grupo e com as pessoas que você conhece.

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Esta história de amor começou em 1979, quando a Igreja na América-latina fez opção preferencial pelos pobres e pelos jovens.

Eu começava o Curso de Filosofia, preparando-me para o sacerdócio. Estava em Brusque, Santa Catarina, e exercia minha ação pastoral na paróquia São Luís Gonzaga, na comunidade das Águas Claras.

No GRUJAC, Grupo de Jovens das Águas Claras, lembro que datilografei, na máquina de escrever, e imprimimos em estêncil a álcool, que a maioria de vocês não têm ideia do que seja, o texto da Opção pelos Jovens do Documento de Puebla. E durante vários sábados à noite lemos, refletimos e rezamos as palavras de amor que brotavam do coração dos bispos da América Latina.

Depois passei por Taubaté-SP, São José dos Campos, Santa Inês, no Maranhão, São Luís, Alto Alegre do Pindaré. De 94 a 98 fui escolhido como assessor nacional da PJ, do Setor Juventude, morando na sede da CNBB, em Brasília, rodando todo país e por vários países da américa latina, pois era também assessor da PJ no Cone Sul.

Desde 79, caminhar na PJ foram tempos de aprendizado, de valorizar o protagonismo juvenil, os pequenos grupos, de refletir e decidir juntos, de fazer opção pelos jovens e pelos pobres, da formação integral, de ter projeto de vida e uma profunda espiritualidade.

Foi tempo de ajudar a organizar a primeira romaria da juventude do Maranhão, em 92, e de participar de tantas romarias.

Tempo de acreditar e afirmar, nos anos 90, a frase: “A PJ é a maior escola de formação de lideranças da Igreja no Brasil.

Tempos de criar e se emocionar com refrãos como: “PJ aqui, PJ lá, PJ em qualquer lugar.” E “Uh tererê, sou PJ até morrer!

Tempos em que a PJ reafirmou a opção pelos pobres, nas causas sociais, animados pela fé.

Nos anos 2006 a 2010, fui missionário nas Filipinas e, de lá, fui chamado para ser bispo de Caxias, no Maranhão. Em Caxias, passamos de 16 para mais de 100 grupos de jovens da PJ.

Em 2015, como presidente da Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB, pude, novamente, estar em contato com as juventudes de nosso país, amar, apoiar e defender suas causas.

Em 2017 assumimos o serviço na Diocese de Imperatriz e, em 2019, vivenciamos, com muito entusiasmo e esperança, a Primeira Romaria Diocesana da PJ.

Em 2018 e 2019, os Sínodos dos Jovens e da Amazônia, que tive a graça de participar, nos mostraram novos caminhos e possibilidades.

Nos Sínodos procuramos ser a voz dos jovens, das jovens. No Sínodo dos Jovens, no número 119, aprovamos que a opção pelos jovens exige da Igreja tempo, energias e recursos financeiros. E, como fruto do Sínodo da Amazônia, ajudamos a criar, em dezembro de 2020, a Comissão Juventudes na CEAMA, a Conferência Eclesial da Amazônia.

Em 2020 e 2021, enfrentando os desafios e as possibilidades nestes tempos de pandemia, e nos preparando para o 13º ENPJ, sinto e acredito que a mística, a formação integral e processual, o cuidado, os pequenos grupos e os compromissos eclesiais e sociais da PJ continuam atuais, fundamentais e importantes para a Igreja, para as juventudes e para a construção da Civilização do Amor.

A PJ faz parte de minha vida há 42 anos.

Dom Vilsom Basso
Bispo de Imperatriz, Maranhão.

Esta carta é um compilado de muitos escritos e falas do Hilário para jovens, seus grupos, encontros, assembleias… Se juntam a voz do Hilário, na leitura desta carta, a voz de outras pessoas que, como ele, amam profundamente a Pastoral da Juventude e seguem o legado do padre Hilário Dick. São elas: Maria Flor, Raquel Pulita, Joaquim Alberto, Lúcia Dick, Irmão Joílson Toledo, Irmã Elsie Vinhote, Luis Duarte, Franciele de Oliveira, Thiesco Crisóstomo, Paula Grassi, Michelle Gonçalves, Chiquinho D’Almeida e Elayne Cardoso…

Leia trechos da segunda carta abaixo ou baixe a íntegra em pdf aqui. Divulgue em seu Grupo e com as pessoas que você conhece.

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“No final de 2020 recebi o convite da Verônica Michelle, Secretária Nacional da Pastoral da Juventude para escrever esta 2ª carta de amor, de 13 cartas preparatórias de um caminho metodológico para o 13º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude, que acontecerá em janeiro de 2022 na Ilha do Amor, São Luís, MA. A carta seria escrita também dentro do processo de preparação para a festa dos 50 anos da PJ no Brasil, em 2023. Fui escolhido como uma das pessoas que dedicaram suas vidas a acompanhar e construir, junto com diferentes gerações de jovens, um projeto de Pastoral da Juventude que tem empolgado milhares de jovens e seus assessores adultos a entregarem suas vidas para transformar a Igreja e a sociedade brasileira, a partir de uma visão libertadora do Evangelho.

“No final de 2020 recebi o convite da Verônica Michelle, Secretária Nacional da Pastoral da Juventude para escrever esta 2ª carta de amor, de 13 cartas preparatórias de um caminho metodológico para o 13º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude, que acontecerá em janeiro de 2022 na Ilha do Amor, São Luís, MA. A carta seria escrita também dentro do processo de preparação para a festa dos 50 anos da PJ no Brasil, em 2023. Fui escolhido como uma das pessoas que dedicaram suas vidas a acompanhar e construir, junto com diferentes gerações de jovens, um projeto de Pastoral da Juventude que tem empolgado milhares de jovens e seus assessores adultos a entregarem suas vidas para transformar a Igreja e a sociedade brasileira, a partir de uma visão libertadora do Evangelho.

“Há uma citação do papa Bento XVI falando para os jovens no estádio do Pacaembu, em São Paulo, no ano de 2007, que me motiva a continuar assumindo o trabalho com a PJ como vocação e ministério: “A Igreja precisa de vós, como jovens, para manifestar ao mundo o rosto de Jesus Cristo, que se desenha na comunidade cristã. Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada”. Conheço dioceses, no Brasil e em outros países, que não apresentam um rosto jovem, que se revelam cansadas, velhas, curvadas, sem energia, sem alegria, com cabelos brancos e que caminham a passos lentos. Para um precipício eclesial. Deixar de trabalhar com os jovens não é uma opção para o futuro.

Por onde começar? Creio que tenho a vantagem de ser o mais velho das pessoas que vão escrever as cartas. Isso não foi difícil, era só não morrer. Por isso passei por mais experiências, tenho o conhecimento que vem do estudo, mas, também, da experiência sendo sistematizada por diferentes gerações de jovens. Tive a sorte de estar presente vivendo tudo isso e aprendendo com os erros e os acertos. Os jovens e seus assessores adultos foram meus mestres. Contribuí com a sistematização das suas intuições e ideias e assim ajudei a clarear o caminho através dos livros e documentos.

O enfoque histórico é importante para fortalecer nossas raízes e identidade. “Frente ao desafio de evangelizar a juventude contemporânea, a Igreja não está começando do zero. Há um caminho histórico percorrido que revela uma herança muito rica. Há uma corrente através da qual uma geração de jovens e agentes evangelizadores adultos passa a experiência acumulada para outra” (Doc. 85, 49). Há uma experiência acumulada, de lições aprendidas e de pedagogia que precisamos levar em conta. O passado pode ser fonte de inspiração e identidade. Abre horizontes importantes para a atual geração de jovens”.

“Há enfoques e métodos que devem se adaptar para melhor responder aos novos desafios e há outros que são mais permanentes, que são o alicerce de nossa identidade e resultados de nossas opções pastorais e opções de vida que não mudam. Portanto, nesta carta, pensei em priorizar um enfoque histórico para, assim, contribuir com o caminho metodológico de preparação para o 13º Encontro Nacional”.

“Todos sabem que o Brasil é meu país adotivo. Sou naturalizado brasileiro e com mais de meio século no Brasil. Mas, nasci na Irlanda. Sou o mais velho de sete filhos, ainda muito unidos. Nasci no meio rural. Meu pai era mineiro de carvão e seu irmão era o líder sindical que organizou uma greve dos mineiros que durou 11 meses. Eu tinha 9 anos. Numa celebração pública, na Igreja local, o bispo denunciou meu tio como comunista. Eu admirava-o pela clareza que tinha de que o seu compromisso era com Jesus Cristo e não com o bispo. Continuou como católico praticante e ao longo prazo sua luta social foi bem-sucedida. Ele era ativista político e místico ao mesmo tempo, tipo Gandhi. Seu compromisso com a justiça social sempre me inspirou. Morava numa aldeia que não tinha escola secundária e, portanto, eu precisava fazer a viagem de 40 quilômetros, ida e volta, todo dia, de bicicleta, para o colégio mais próximo – inclusive no inverno rigoroso de neve, geada, chuva. Não havia dinheiro para pagar um colégio interno. Terminando o colégio decidi ser missionário, entrei na Congregação do Espirito Santo (Espiritanos).

Minha primeira experiência com grupo de jovens foi como seminarista, nos anos 60, quando assessorei dois grupos de jovens em duas escolas, usando a metodologia da Juventude Estudantil Católica (JEC), da Ação Católica Especializada (AC). Tive a sorte de participar de diferentes treinamentos na Inglaterra que foram a base da minha compreensão metodológica posterior. Chegando no Brasil, em 69, a experiência da AC estava no final, não resistiu às investidas da Ditadura Militar e aos conflitos com a Igreja institucional. Mas aconteceu uma coisa surpreendente. A AC terminou como corpo organizado, mas sua metodologia e suas grandes teses foram sendo assumidas por toda a Igreja, em diferentes pastorais. O documento de Medellín, em 1968, confirmou esta nova metodologia. A sistematização da Pastoral da Juventude, nos anos 70 em diante, deve muito à recuperação da memória e enfoques da AC”.

“Refletindo sobre os 50 anos da PJ no Brasil que celebraremos em 2023, é importante destacar o papel do 4º Encontro Nacional da Juventude em 1984. Os encontros nacionais anteriores (1973, 1976 e 1980) não deslancharam um processo de continuidade, porque participaram convidados, não delegados.

Em 1982 o assessor nacional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Pe. Hilário Dick sj, convocou uma reunião de uma semana, no Rio de Janeiro, com lideranças, de modo especial, do Nordeste e do Sul. A reunião foi a primeira tentativa de pensar um projeto nacional de Pastoral da Juventude. Apesar de tensões, foi um passo importante. Em 1984 fui nomeado como assessor nacional da CNBB. Havia urgência de pensar em algo para o Ano Internacional da Juventude em 1985 e por isso convocamos o 4º Encontro Nacional”.

“Assim, nasce uma pastoral orgânica de juventude (PJ) a partir dos grupos paroquiais (resultado em grande parte dos encontros), inspirada na Teologia da Libertação e nos documentos do episcopado da América Latina, Medellín e Puebla. Resgatando a rica experiência da Ação Católica, a metodologia acentua a formação dos pequenos grupos, a organização dos grupos em redes, o planejamento participativo, a capacitação de líderes jovens e assessores adultos, o engajamento na transformação social e a espiritualidade encarnada.

Há um rico período de elaboração teórica que clareia e define o projeto de pastoral que é publicada em documentos, cadernos de estudo e livros. É importante destacar aqui certa confusão de terminologia. O termo Pastoral da Juventude tinha dois sentidos: 1. PJ, a pastoral que nasce a partir dos delegados dos regionais – e dioceses – que participaram do 4º Encontro e, posteriormente, dos encontros nacionais anuais seguintes; e 2. O termo Pastoral da Juventude que abrange todo o trabalho de evangelização dos jovens, incluindo os movimentos apostólicos, etc”.

“A partir de Medellín e Puebla, a Igreja assumia posições cada vez mais proféticas voltadas a dois grupos prioritários no continente: os pobres e os jovens. Recordo, como assessor nacional, rodando diferentes assembleias diocesanas e descobrindo que a maioria dos delegados tiveram uma militância política e social. Tratava-se de uma geração de jovens que lia muito, estudava muito e discutia muito”.

“A participação política era algo muito positivo, mas o desafio foi como evitar que a PJ caísse em reducionismos. Houve crítica de padres e bispos que os jovens reduziam a evangelização à política, não rezavam e perdiam a dimensão da fé. Nos próximos anos houve importante avanço na sistematização de dois temas para garantir maior equilíbrio: As Cinco Dimensões da Formação Integral e a importância de não queimar as Etapas da Educação na Fé. Os dois se tornaram temas centrais do novo projeto”.

“Em 2005, a CNBB inicia o processo de elaboração de um novo documento sobre a evangelização da juventude que acaba tendo influência profunda sobre a maneira de organizar a juventude na Igreja. Em 2007, é aprovada na Assembleia da CNBB o que se tornou conhecido como o Documento 85, “Evangelização da Juventude, desafios e perspectivas pastorais”. Como resultado a juventude se torna, de novo, prioridade pastoral da Igreja. Eu fui relator da comissão que redigiu o documento, e portanto, acompanhei de perto todo o processo”.

“Quero partilhar com vocês uma experiência que temos no CCJ (Centro de Cursos de Capacitação da Juventude) e que tem nos ajudado a enfrentar as diferentes crises. No CCJ priorizamos cursos de treinamento de líderes, chamados de Curso de Dinâmica para Líderes (CDL)”.

“Os cursos têm encontrado muito sucesso e foram multiplicados em mais de 115 dioceses no Brasil e 8 países da América Latina, na Europa, África e Estados Unidos. As dinâmicas facilitam a adaptação a diferentes culturas”.

“O sucesso dos cursos é resultado de vários fatores: os jovens não são somente ouvintes, há uma variedade de dinâmicas onde aprendem fazendo; se trabalha muito o lúdico, há ambiente de alegria, os laços afetivos formados são muito fortes e facilitam a continuidade; há integração entre o intelectual e o emocional, há temas essenciais que são repetidos para cada nova geração de jovens que chega; há um compromisso de multiplicação para atingir mais pessoas”.

“Os jovens adquirem diferentes habilidades: mais autoconfiança, maior capacidade de escutar os outros, de estudar, de organizar e comunicar suas ideias, de coordenar e de motivar seus grupos, de pensamento crítico e de unir fé e vida, fé e justiça social e uma espiritualidade encarnada. Aprendem os tipos de coordenadores negativos que devem ser evitados.

Os cursos, também, resolvem um desafio da PJ em muitas dioceses onde as lideranças se afastam quando terminam seus mandatos, casam etc., assim perdendo líderes de muito valor porque não encontram novos desafios. Trabalhar nos cursos, como monitores, tem sido uma maneira de continuar motivando estas pessoas e aproveitar seus talentos e experiências para fortalecer a PJ local. Evita, também, outro desafio, em alguns lugares: “dinossauros” que não abrem espaço para que os novos possam testar suas asas e voar.

Nos últimos anos está ficando claro que estamos passando pela pior crise de assessoria adulta dos últimos 50 anos e que o fortalecimento do projeto da PJ nos próximos anos passa pela conquista e treinamento de novos assessores. Nos regionais e dioceses onde a PJ está em crise há tendência de substituir a assessoria religiosa pela assessoria somente de leigos, de modo especial, jovens mais velhos. A questão não é tanto, ser religioso ou leigo, mas de qual é o peso do assessor(a) ou da comissão de assessores frente à Igreja institucional para conquistar apoio e se integrar na pastoral orgânica da diocese. Qual a preparação e processo de nomeação para trabalhar a função específica do assessor, que é diferente do coordenador jovem. O assessor deve ser ponte e para ser ponte deve ter apoio dos jovens e do clero. Deve ter trânsito nos dois lados. O assessor adulto pode ser comparado ao técnico de time de futebol que não entra no campo para jogar, mas, sem ele, não se ganha campeonato”.

“Uma das lições mais importantes que aprendi trabalhando com jovens foi a necessidade de ajudar coordenadores e assessores a terem clareza do projeto pastoral. É o projeto pastoral que determina o tipo de jovem a formar, o tipo de Cristo, o tipo de Deus, o tipo de espiritualidade e a metodologia para chegar aos seus objetivos, se a proposta trabalhada é mais libertadora ou mais autoritária, mais participativa ou mais clerical. Ao mesmo tempo é fundamental a capacidade de interpretar as mudanças no contexto social e eclesial em que trabalhamos e fazer as adaptações necessárias, sem perder a identidade da PJ. Se coordenadores e assessores adultos não evoluem, não vão entender a cabeça dos novos adolescentes que estão chegando nos grupos paroquiais. E, se não partirmos das aspirações e necessidades sentidas destes jovens, não conseguimos motivá-los e conquistá-los e, portanto, ficamos isolados em nossas bolhas”.

“O Ano 2020 foi um ano em que o mundo foi paralisado pela pandemia Covid-19. Foi um ano em que a PJ conseguiu manter vivo o seu projeto de evangelização da juventude utilizando, de maneira muita criativa, as novas plataformas da internet: E-mail, WhatsApp, Zoom, Google Meet, Facebook, YouTube, Instagram. Agora, com a perspectiva de novas vacinas para combater o vírus, o desafio da PJ vai ser como retomar a articulação presencial de grupos, renovando a organização, assessoria e enfoques metodológicos, chamando a atenção para a volta às bases e à renovação das estruturas de acompanhamento. A articulação virtual precisa ser complementada com a articulação presencial. Um abraço virtual não é a mesma coisa que um abraço presencial.

Não é pouca coisa celebrar 50 anos (meio século) da PJ. São diferentes gerações de jovens que passaram a peteca de uma geração à outra. Eu me sinto privilegiado de ter feito parte desta caminhada e de ter ajudado a devolver para os jovens suas próprias ideias, de uma maneira mais sistematizada, através dos meus livros e escritos e assim clarear a caminhada para frente. Sinto que recebi mais do que dei. No início, fui uma pessoa um pouco ingênua, mas o questionamento e a convivência com os grupos de base e as equipes de coordenação da PJ, nos diferentes níveis, no Brasil e na América Latina, ampliaram meus horizontes. Eu estudei teologia na Irlanda, mas aprendi teologia no Brasil.

O título escolhido pela PJ Nacional foi “Cartas de Amor”. Foram de igual importância os laços afetivos que formei com milhares de jovens e assessores adultos durante estes últimos 50 anos e que me sustentam emocionalmente. Hoje trabalho com “jovens” dos anos 70 que continuam ajudando voluntariamente com a parte administrativa, na Diretoria do CCJ. Às vezes, sou crítico dos erros da PJ – até demasiado direto -, mas é a crítica construtiva do psicólogo que sabe que não pode ficar somente elogiando seu cliente. Com a idade vou adquirindo mais jeito de dizer as coisas.

Tenho convicção que o projeto pastoral da PJ não pode morrer, porque se morrer, morre um modelo de Igreja que não pode morrer. O que me sustentou em termos de fé e de compromisso com a construção do Reino, nestes 50 anos, foram a convivência com muitos jovens que admiro pelo seu testemunho de uma fé madura e crítica, e sua dedicação e compromisso com um projeto pastoral libertador que une fé e vida, e que tem como sua estrela norteadora a opção evangélica pelos mais pobres.

São leigos comprometidos que estão na linha de frente, desmontando a manipulação da religião por forças políticas para promover a teologia da prosperidade, desmontando o ódio, a divisão e uma sociedade cada vez mais desigual que esmaga o pobre. O futuro da Igreja depende de um laicato maduro e a PJ foi a principal “fábrica” que despertou e formou leigos maduros, durante estes últimos 50 anos. Como dizia Bonhoeffer, “A Igreja precisa pregar o evangelho a um mundo que se tornou adulto”.

Uma história de amor que luto todos os dias para que não deixe de existir, seja criticando construtivamente, seja escrevendo livros e artigos, seja incentivando a formação de novos líderes, assim amo a juventude e contem sempre com este amor. Parabéns aos jovens que antecederam vocês nesta estrada e foram capazes de provocar este encantamento, e parabéns a vocês que se deixaram encantar e estão dispostos a escrever a história dos próximos 50 anos de amor ao projeto de Jesus Cristo através da PJ”.

Padre Jorge Boran, cssp

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O pedido foi de escrever uma carta de amor à Pastoral da Juventude e eu busquei na memória as razões para que essa declaração fizesse sentido, escolhi alguns aspectos desta história minha que se cruzaram. A carta é para ser uma declaração de amor por você, Pastoral da Juventude. Indicando alguns pontos trago as razões.

O pedido foi de escrever uma carta de amor à Pastoral da Juventude e eu busquei na memória as razões para que essa declaração fizesse sentido, escolhi alguns aspectos desta história minha que se cruzaram. A carta é para ser uma declaração de amor por você, Pastoral da Juventude. Indicando alguns pontos trago as razões.

Para dizer dos meus sentimentos por você, fiz um giro histórico para quando nos conhecemos, um pouco antes, talvez quando estava iniciando a experiência de grupos pequenos, desarticulados. Eu uma menina nascida no espaço rural, de família forçada a migrar para a cidade, pais com pouca escolaridade, portanto condenados a serviços de auxiliar de pedreiro, limpeza e a remuneração mínima. Família de muitos filhos/as, somos oito. Mãe cuidadora da casa, dos filhos e da sobrevivência, nossas origens estão marcadas pelas culturas indígenas, tanto avô materno como avó materna. Povo de poucas palavras e muitos gestos quando se trata de dizer do amor.

Também, sou a terceira mulher e depois de mim, nasce um menino. Eu entendi ali com três anos, que não estavam bem as relações entre os homens e as mulheres. Dizia minha vó que minha reação foi muito grande e o fato dela me apoiar na ocasião, e ainda, me contar e recontar essa história acabou como primeira memória de resistência, hoje muito mais claro, porque ela foi exercitada de outras formas ao longo da minha trajetória. E, outra marca que preciso dizer a você, é que no ano seguinte 1961 fui acometida pelo vírus da poliomielite, que marcou meu corpo e minha vida.

A classe social e a diferença na marcha, porque fiquei manca, como sequela para paralisia infantil, foi lugar dos diversos abusos que sofri ao longo da minha história de infância e adolescência. Fez nascer muitos medos – o maior deles era de gente, devido as situações de humilhações. E para ajudar, eu estudei em escola confessional católica, destinada para gente rica, onde alguns pobres tinham bolsa, eu era dessas que recebi essa “caridade” porque meu pai era porteiro servente da escola. E então, vivi um período de isolamento social grave e imposto por estas condições.

Toda esta história anterior para dizer da minha primeira declaração: o grupo, a PJ (você) foi meu espaço de salvação, fiz outros movimentos na direção das pessoas e do comunitário. E eu pude por causa da sua existência entender sobre minhas ancestralidades e revisitar minha história de avô curador, porque com certeza deveria ser o pajé do seu grupo, escutar as histórias de violências de minha avó e tias de outro lugar, entender nosso jeito de estar no mundo, nossos costumes e nossos gostos, entender com mais profundidade meus pais tão conectados com a natureza, saber que eu tinha uma classe social da qual não era vergonha e sim, de gente lutadora e com uma capacidade de resistência tremenda.  E com cuidados que jamais esquecerei. Só para citar, minha mãe cultivava ervas medicinais para oferecer a quem precisasse, meu pai produzia mudas de árvores frutíferas e distribuía entre as pessoas amigas. Com isso, reconhecer que precisamos de pouco para viver bem.

A segunda declaração nasce dessa mudança provocada pelo grupo e pela sua organização. A quantidade de pessoas que foram entrando em minha vida, alguns deles e delas cúmplices da minha existência, porque foram exigentes, críticos/as, cuidadosos/as abriram meus olhos e meu corpo para entender o mundo diverso, superar uma religião de ritos e de devoções para viver uma mística que gera um compromisso com a vida e com a história, capaz de projetar sonhos para a humanidade. Não posso nomear todos porque o texto seria só de nomes, porém sei que tanto os que me cercam de perto e de longe saberão reconhecer-se neste movimento de nos tornarmos uma comunidade de irmãs e de irmãos. Como não amar você, PJ?

A terceira declaração está vinculada com a história da classe social. O movimento de me entender no grupo de gente trabalhadora, portanto explorada, me fez fazer as pazes com minha família, no sentido profundo, de entender que o processo de exploração imposto a um grupo social priva esse grupo de muitas coisas, desde o acesso ao conhecimento, o acesso a bens e outras questões que fazem parte da vida com dignidade. Também, aprendi a pisar neste lugar de modo amoroso, e saber que esse lugar que eu piso, não estou só, somos muitos, entender e ler a bíblia a partir desse lugar, contribuiu para aprofundar minha fé, deixar uma fé infantil e boba para uma fé madura e comprometida com as causas da justiça. Estar com os pobres e reconhecer-me parte desse grupo foi e é um longo aprendizado. Escolher esses grupos minorizados como parte da minha história e das minhas lutas, faz parte do meu amor e das minhas maiores gratidão a você, Pastoral da Juventude.

A quarta declaração tem uma conexão com o acompanhamento. Ela me conecta com a esperança. Olhar o caminho percorrido por você PJ e por aquelas pessoas que foram trilhando e se fazendo gente, porque você existe e resiste é motivo de muitas alegrias. Digo aqui do contexto continental porque tive essa oportunidade de acompanhar pessoas de diversos países, e quando encontro com elas ou elas encontram comigo em vários espaços, sejam eles presenciais ou virtuais, eu tenho a mesma sensação de João Batista: “Não sou digna de desatar suas sandálias”. Aqui é exercício de humildade, ou seja, a capacidade de reconhecer a verdade. Gente que no seu tempo aproveitou tudo que foi oferecido e assumiu a máxima de Olga Benário: “Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”. E como sou grata a você por testemunhar cada um e cada movimento feito, desde a entrada nas políticas públicas de juventude, as campanhas pela vida das juventudes e o respeito pela diversidade que somos como humanidade.

Um outro aspecto que nesta lista, já vai para o quinto, é a memória. Recordo de Adélia Prado quando afirma que “O que a memória amou ficou eterno”. Você nos ensinou não só a amar cada história vivida, como a fazer o registro dessa memória, construir marcos referenciais em nível de continente, nessa nossa Pacha Mama. Esse jeito seu de fazer a memória e organizar as histórias, valorizar as pessoas, a tornou uma universidade popular, onde o conhecimento foi sendo feito e refeito por muitas mãos. E que aprendizados foram gerados em seu espaço!  E quando a gente se encontrava como Pátria Grande, havia algo muito misterioso, a gente se conectava como um povo e contemplava a nossa diversidade de povos, línguas, culturas, resistências, mística! Tive a graça de participar e colaborar em congressos e encontros, na construção do Marco de Referência Civilização do Amor e Projeto e Missão. Nesse caminho, nos aproximamos muito, amei cada passo, com todas as contradições.

A formação, o processo e a integralidade foram um aprendizado e uma paixão que foi se ampliando cada dia. Preciso dizer da CAJU, que foi uma escola para mim e para tantas pessoas, aqui segue uma lista sem fim de nomes, de gente que recordo e gente que recorda de mim. Lugar de sonhos, produção de sínteses, formação… muitas contradições próprias das nossas fragilidades humanas, uma equipe de trabalho de muita cumplicidade. Neste espaço sonhamos que as juventudes pudessem ser discutidas como tema nas universidades. Começou com a pós graduação em juventude depois mestrados, doutorados e pós doutorados com esta temática. A quantidade de gente que entrou para universidades e fez seus estudos, alargou demais a CAJU na defesa da vida da juventude empobrecida, contra as violências. E as instituições temeram, preferiram a manutenção, a conservação e fecharam o espaço. As sementes de caju já estavam espalhadas no mundo e nas pessoas que foram transformadas e o compromisso continua com o nascimento do Cajueiro. Este caminho foi para confirmar o trabalho em equipe, a ação planejada em processo, atenta a pessoa com todas as suas complexidades. Também, que uma formação sólida vem quando se toca nas estruturas sociais, culturais e econômicas, e por isso a descolonização, a despatriarcalização de nossas vidas e nossas culturas para construir espaços de comunicação sem violência e, ainda, para garantia do direito a vidas seguras, organização das mulheres, rompimento com o racismo estrutural tem sido caminhos para tecer redes de proteção à vida. Esses aprendizados se fazem perto das juventudes, perto da geração atual que você continua reunindo, encantando e provocando novos caminhos.

E nós sabemos que esse caminho é marcado por várias perseguições e não poderia ser diferente, as opções que foram feitas e são renovadas em mim e em você através do povo do caminho ao longo da história, do compromisso com Jesus de Nazaré, com Maria de vários rostos neste continente, vai nos ensinando que nossas escolhas têm consequências e por isso, a espiritualidade que alimenta nossa mística pela causa da vida, renova nosso amor pela vida e pelas juventudes.

Claro que tem muitos outros motivos para declarar meu amor por você, a história dos seus 50 anos, recordar as pessoas que já ressuscitaram e, outras que ao longo da história contribuíram tanto neste caminho e, todas as pessoas, que nos fizeram melhores e mais livres para viver o compromisso com o Reino e com as pessoas empobrecidas!

Amorosamente,
Carmem Lucia.