Campanha da Fraternidade 2022: Por uma educação libertadora.

Por Bianca Ortega

Tema recorrente e debatido amplamente por diversos setores da sociedade, a educação nunca nos custou tão caro, mesmo com tamanha descredibilidade e pouco investimento. Educar que é um papel muito além da sala de aula e se tornou um desafio neste período pré e pós pandemia, principalmente pelas perseguições às educadoras e educadores e o esvaziamento do pensamento crítico e científico.

A educação passou a ser vista como militância esquerdista e tudo que questionava ou desmentia a direita conservadora fundamentalista era lido como contra a família e o cristianismo, e apesar de absurda esta afirmação, vimos crescer em nosso meio, especialmente nas igrejas, irmãs e irmãos que concordam com esse discurso, menosprezando qualquer evidência contrária. Mesmo sendo assustador pensar que chegamos a isso ao longo dos últimos 5 anos, a disputa de narrativa na educação não é algo novo, mas tomou corpo com a ascensão do conservadorismo e do fundamentalismo religioso no Brasil. O que parece ser preocupação com o aprendizado de nossas meninas e meninos, é mais um palco para disseminar preconceitos e intolerâncias, às vezes sociais, mas muitas vezes religiosas. O discurso de uma escola sem partido e sem ideologias é, na verdade, a imposição de uma única visão de mundo, excludente e reacionária.

Neste cenário a CNBB nos apresenta, em 2022, uma boa oportunidade de refletirmos, a partir da Campanha da Fraternidade (CF), esta realidade, aprofundando e construindo outros e novos olhares para uma educação libertadora e livre dessas crenças segregadoras.

Tendo em seu tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26), a Campanha de Fraternidade 2022 nos provoca a falar e também escutar as diversas realidades da educação no Brasil e suas dificuldades. É a terceira vez que a Educação é assumida como tema da CF, e não por acaso, pois é a partir da educação que formamos pessoas para sociedade, muito mais que um olhar técnico, mas humano para o ensino, a educação é um ato revolucionário, que no processo de aprendizagem gera em nós sonhos e organiza nossa esperança.

Papa Francisco na encíclica Fratelli Tutti, nos diz: “Quanto aos educadores e formadores que têm a difícil tarefa de educar as crianças e os jovens, na escola ou nos vários centros de  agregação infantil e juvenil, devem estar cientes de que a sua responsabilidade envolve as dimensões moral, espiritual e social da pessoa.” A Igreja “tem um papel público que não se esgota nas suas atividades de assistência ou de educação”, mas busca a “promoção do homem e [da mulher] e da fraternidade universal” (FT 114). E Paulo Freire completaria: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.”

Em um cenário de polaridade política e marcado pelo crescimento das desigualdades e da exclusão social, a Campanha da Fraternidade de 2022 traz na reflexão do tema contribuições de uma educação para o humanismo solidário, reconhecendo a diversidade religiosa, para que seja possível fomentar o diálogo fraterno entre as distintas perspectivas religiosas e não religiosas, auxiliando em um olhar onde a justiça e paz são para todas e todos e integralizadora de todas as realidades.

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