Jovens têm algo a ensinar à Igreja sobre sinodalidade, escreve Papa Francisco

Os jovens católicos estão dando à Igreja uma lição valiosa sobre o verdadeiro significado da “sinodalidade”, escreveu o Papa Francisco.

A reportagem é de Cindy Wooden, publicada por Catholic News Service, 08-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Eles nos pediram de mil modos que caminhemos ao lado deles: nem atrás deles, nem à frente deles, mas ao lado deles! Nem acima deles, nem abaixo deles, mas no mesmo nível deles!”, escreveu ele na introdução de um novo livro italiano de artigos sobre a pastoral juvenil.

O padre salesiano Rossano Sala, um dos secretários especiais do Sínodo dos Bispos de 2018 sobre os jovens, escreveu o livro “Intorno al fuoco vivo del Sinodo – Educare ancora alla vita buona del Vangelo” [Ao redor do fogo vivo do Sínodo: educar ainda para a vida boa do Evangelho].

O “discernimento” foi um dos temas-chave do Sínodo e da Christus vivit, a exortação apostólica pós-sinodal de Francisco, de 2019.

No livro de Sala, Francisco escreveu que não está tentando “transformar todo membro do povo de Deus em um jesuíta”, a ordem religiosa que se especializou no ensino do discernimento espiritual ou na leitura orante dos sinais dos tempos e na busca de saber como Deus quer que os indivíduos e a Igreja respondam a eles.

Algumas pessoas, disse ele, pensam que “o convite urgente ao discernimento é uma moda deste pontificado, destinada a passar rapidamente”, mas Francisco insistiu que a prática espiritual é essencial hoje, quando as coisas estão mudando rapidamente, muitas pessoas estão se esforçando e, assim, muitos precisam escutar o Evangelho.

Escutar e dialogar são os primeiros passos essenciais, escreveu o papa. “Sobretudo hoje é mais do que nunca necessário entrar em uma escuta honesta das alegrias e das lutas de cada membro do povo de Deus e, sobretudo, de cada jovem.”

“A Igreja como um todo ainda tem muito trabalho a fazer” para aprender a escutar, disse ele, “porque muitas vezes, em vez de sermos ‘especialistas em humanidade’, acabamos sendo considerados pessoas rígidas e incapazes de escuta”.

Mas o Evangelho mostra que escutar é a primeira atitude de Jesus, disse ele, e deve ser a primeira resposta ao encontro com outra pessoa feita à imagem de Deus e amada por Deus.

O diálogo é o segundo passo natural, disse ele. “Ele nasce da convicção de que, no outro, naquele que está na nossa frente, estão sempre recursos de natureza e de graça.”

“O diálogo é o estilo que exalta a generosidade de Deus, porque reconhece que a sua presença está em todas as coisas e que, portanto, é preciso encontrá-lo em cada pessoa, tendo a coragem de lhe dar a palavra”, escreveu o papa.

A revolução digital, a crise climática, a migração e “a chaga dos abusos” já sinalizaram para a Igreja que muitas coisas devem mudar, escreveu Francisco. Depois, chegou a pandemia da Covid-19, “transformando a existência de todos e que não sabemos bem aonde vai nos levar”.

Uma coisa é certa, disse ele: as lideranças e os membros da Igreja devem se empenhar no “discernimento para garantir a proximidade com o povo de Deus, para reformar a economia e as finanças, para conceber novas formas de solidariedade e serviço”.

Sem estudar a realidade e considerá-la na oração, disse o papa, a resposta corre o risco de ser apenas “a última moda do momento, ou nos refugiaremos em práticas do passado incapazes de interceptar a situação singular das pessoas e dos jovens de hoje”.

Francisco disse que a escolha de focar a “sinodalidade” na próxima assembleia geral do Sínodo dos Bispos, em 2022, é um resultado natural do Sínodo sobre os jovens.

Há uma “necessidade urgente de redescobrir a graça batismal” de todos os católicos e o seu chamado a serem “discípulos missionários”, disse ele. Abraçar a “sinodalidade” com todos os membros da Igreja “caminhando juntos”, compartilhando intuições e respeitando os papéis próprios de cada membro, é uma forma de reconhecer essa graça e responder a ela de forma mais eficaz.

Este artigo foi originalmente postado no site do IHU.

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