Testemunhar Cristo

2º Domingo do Tempo Comum

Primeira Leitura Is 49,3.5-6

Salmo 39

Segunda Leitura 1Cor 1,1-3

Evangelho Jo 1,29-34

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por Jaiane Seulim*

Se você estiver andando pela rua mais movimentada da sua cidade, aquela tipo centro do comércio, em tempos de liquidação de qualquer coisa, você tá lá no seu ritmo, fone de ouvido, óculos e boné contra o sol, “de boa” seguindo seu caminho até a parada do busão. De repente, sem você perceber, alguém segura seu braço, para você, e pergunta: “Quem é Jesus?”.

Oooops! Acontece um giro na sua cabeça, você leva alguns segundos para assimilar a pergunta e diz: “Desculpe!! Tô com pressa!” – E sai andando. Não significa que você não tenha passado pela catequese até com algum interesse pelos conteúdos ministrados, mas o que se trata é que você não esperava ali, naquele sol, aquela correria, atrasada talvez pra pegar o busão e diante daquela multidão de gente, ter que falar de Jesus Cristo.

Essa era a tarefa de João Batista no Evangelho deste final de semana. A partir do Evangelho de João, o profeta João Batista apresenta Jesus no versículo 29. como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo e, no versículo 34, como o Filho de Deus. Esses dois títulos teológicos, Cordeiro de Deus e Filho de Deus, são colocados pela comunidade joanina já no começo da aparição de Jesus, tratam-se, portanto de titulações centrais para a fé em Cristo.

O Cordeiro: o Pascal e o Derradeiro!

O Cordeiro de Deus, aquele que a partir de sua morte e ressurreição, elimina o pecado do mundo, apresenta o Cristo que aponta para experiência da cruz. Além disso, cordeiro faz referencia a experiência da Páscoa, que foi a experiência de libertação do povo da escravidão. Jesus é, contudo, não mais um cordeiro, mas o definitivo, que substitui o pascal, que tira todos os pecados do mundo. A apresentação de Jesus como Cordeiro de Deus é proposital para rememorar a libertação do Egito, o Deus que libertou seu povo apresenta agora seu Filho. Após o sacrifício de Cristo como Cordeiro derradeiro, não haverá mais sacrifícios, pois o sacrifício de Cristo sela a nova e definitiva Aliança de Deus com a humanidade.

O Deus que libertou Israel das maldades do Faraó não vai apenas restaurar as tribos de Jacó (Isaias 49,3.5-6), mas elege o Servo preparado desde o nascimento (Is 49,5) que será Luz das nações até os confins da Terra (Is 49,6). O Cordeiro de Deus, portanto, eleito para ser luz das nações é aquele que tira pecado do mundo, aquele esperado em Isaias 49,3.5-6. A Boa Nova do Cordeiro de Deus é que a humanidade toda é, agora, teologicamente o Israel eleito por quem Deus tem carinho e quer salvar.

O Filho Eleito de Deus!

O testemunho de João Batista sobre aquele que vem depois dele, o qual ele não é digno sequer de desamarrar a correia das sandálias (Jo 1,27), é aquele que no versículo 30 João lembra que Jesus é profeta que passa na frente de João Batista porque existia antes dele (Jo 1,30). João Batista cumpre o tempo dos profetas de Israel do Antigo Testamento e Jesus é o profeta que passa dos profetas porque é Filho de Deus e existiu antes de João com Deus assim como em Jo 1,1-2 “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus”.

João Batista apresenta Jesus como Filho de Deus, pois viu o Espírito descer do céu e sabia que Jesus é quem batiza como o Espirito Santo. É possível traduzir essa titulação Filho de Deus como Eleito de Deus, 1 sendo Jesus o Eleito por Deus para ser o Cordeiro que expia os pecados de maneira definitiva e que trará a libertação, assim como no Êxodo, agora até os confins da Terra.

O Cordeiro, O Eleito e a juventude!

O apostolo Paulo, na segunda leitura de 1Cor 1,1-3 saúda a comunidade de Corinto dizendo que em nome de Jesus somos chamadas e chamados a ser santas e santos junto com aquelas pessoas que em todo o lugar evocam o nome de Cristo.

Por causa da nossa fé em Jesus Cristo recebemos a missão de testemunhar a Cristo sendo santas e santos. Nosso lugar é o chão que a juventude brasileira pisa, chão imenso de grande, que é uma comunidade só e varias comunidades. Nós acreditamos que a fé em Jesus Cristo, assim como a fé no Deus do Êxodo, é libertadora. Anunciar a Cristo é, portanto, promover realidades de libertação por onde pisamos. É sendo santas e santas que testemunhamos a Cristo como Cordeiro e Eleito.

Para isso a profecia tem que estar bem afiada. A profecia advém em tempos de injustiça onde as coisas acontecem e não geram vida. A profetiza e o profeta são aqueles que conhecem profundamente a realidade que estão inseridas/os. Infelizmente, em muitas vezes o solo em que a vida da juventude esta plantada não reproduz mais vida. A negação sistemática aos direitos juvenis acontece em escalas locais e globais influenciando no estudo, no lazer, emprego, saúde entre outros direitos que a juventude não acessa. A violência física contra a juventude, a realidade de extermínio especialmente contra a juventude pobre e negra, deve ser o grito incessante de nossa profecia e testemunho de uma nova realidade.

A gente testemunha a Cristo, pois temos fé nele como nosso Salvador e dele aprendemos a opção evangélica preferencial pelas pessoas empobrecidas, e com as juventudes aprendemos que essa opção se atualiza como opção pela juventude empobrecida. Jesus através de sua morte e ressurreição nos chama para uma vida plena. Jesus expiou os pecados de forma derradeira por todas e todos nós, nisto consiste nossa fé! Então cabe a nós testemunha-lo como o Eleito de Deus e Cordeiro para que não haja mais sofrimento e injustiça e que possamos já experimentar a novidade do Reino entre nós.

O testemunho, porém, é atitude radical, a palavra mártir vem da palavra testemunha, ou seja, quando testemunhamos a nossa fé em um Deus libertador, estamos aceitando ir contra os poderes e comportamentos destrutivos deste mundo, aceitando ser mártires/testemunhas pela causa da vida.

1 DREHER, Carlos. Disponível em: http://www.luteranos.com.br/textos/joao-1- 29-34

*Jaiane Seulim
Jovem, gaúcha, militante da PJ e teóloga

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