Por que estão aí parados, olhando para o céu?

 Por que estão aí parados, olhando para o céu?

Liturgia do dia 13 de maio de 2018 – Solenidade da Ascensão

“…Por que estão aí parados, olhando para o céu?” (At1,11)

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Por Fatinha Castelan

Nesse domingo 13 de maio de 2018, as comunidades cristãs celebram a solenidade da Ascensão do Senhor. Essa celebração se caracteriza como um coroamento da festa da Páscoa. Essa solenidade da Ascensão nos faz refletir que a vida definitiva, plena é o que se mostra no final do caminho percorrido no amor e na doação. Aponta também para a certeza de que somos nós, seguidores e seguidoras do projeto de Jesus, responsáveis em continuar sua ação libertadora no mundo.

A missão que Jesus veio realizar foi concluída. Mas o Projeto permanece em vai depender de cada pessoa que tiver a coragem de responder a esse chamado. Essa é a provocação dos textos bíblicos selecionados para esse domingo: os poderes da morte não venceram; Deus, senhor da história, acolheu Jesus; a missão continua e está em nossas mãos.

Na primeira leitura (At 1,1-11)vamos encontrar a narrativa feita pela Comunidade de Lucas mostrando a participação de Jesus na plenitude da comunhão com Deus. A Comunidade se coloca no caminho de Jesus e alimenta sua esperança de alcançar esse mesmo destino. Para isso não podem ficar parados/as, olhando para o céu, numa passividade alienante; o seu lugar de ação é a realidade concreta, o mundo. Mas quem eram esses seguidores e seguidoras destinatários/as desta mensagem?

A Comunidade que escreveu esse texto pertencia à segunda geração de cristãos e cristãs, em torno do ano 85 EC (era comum). Com certeza o local da redação foi uma grande cidade da época: Antioquia da Síria, Éfeso, na Ásia Menor ou Corinto, na Grécia. Em qualquer uma dessas cidades vivia-se a dominação e exploração impostas pelo Império Romano. As comunidades de Lucas apresentavam características diferentes daquelas da Palestina (Galileia, Judeia e  Samaria). Eram comunidades urbanas, que conviviam entre culturas e religiões diversas. Nas comunidades estavam juntos ricos e pobres (a maioria pobres), judeus e não judeus.

As Comunidades seguiam na contramão da história da época, propondo a cada momento a revisão de critérios e de certezas e a conversão para outros valores. Com esta e outras preocupações a comunidade de Lucas indicava sua compreensão do que deve ser a missão da comunidade cristã: junto aos pobres, pensando com e a partir deles novas relações no cotidiano e na sociedade.

A segunda leitura (Ef 1,17-23)confirma para discípulos e discípulas de Jesus que a missão está em suas mãos. Traz a imagem da igreja como corpo para afirmar a busca comum no seguimento e apresenta Jesus como cabeça desse corpo.

Essa Carta enviada para a Comunidade que vivia em Éfeso é, provavelmente, texto da segunda geração de seguidores e seguidoras de Jesus, escrita por volta do ano 90. A autoria seria de um discípulo de Paulo. Essa liderança queria animar a comunidade a seguir sua caminhada com a certeza da presença de Jesus – cabeça do corpo que é a igreja. Jesus não estava fisicamente no meio da comunidade, mas era Ele que continuava alimentando a ação dos grupos no meio do mundo e esses grupos/comunidades de Jesus é que tinham que revelar o ressuscitado.

O Evangelho é da Comunidade de Marcos (Mc 16,15-20). Esse Evangelho pode ser situado entre os anos 66 a 70 da era comum (EC), ou seja, depois de Cristo. Esse período foi marcado por uma grande guerra, conhecida como guerra judaico-romana. Essa guerra entre judeus e romanos aconteceu na Palestina e significou anos de grande sofrimento para todo o povo. O império romano mobilizou um grande exército para derrotar os grupos de judeus que se organizaram para defender sua terra das imposições e da exploração de Roma. Durante a guerra muitos judeus deixaram a Palestina, dentre eles muitos judeus-cristãos, ou seja, judeus seguidores de Jesus. Esses grupos se espalharam por todo o império, se juntando a outros que já viviam fora da Palestina.

Os grupos que saíram de sua terra, vivendo um tempo de guerra e incertezas, sentem a necessidade de anunciar o projeto de vida que escolheram. Passam, então, a recolher memórias de Jesus e organizá-las por escrito, tendo como base a própria vida daquele grupo: suas dúvidas, questionamentos e proposta de seguimento.

Muitos estudiosos apontam que o texto que está em Mc 16,9-20 é um acréscimo ao texto do Evangelho. De acordo com essa análise trata-se de um texto de meados do segundo século, que apresenta um resumo das aparições de Jesus ressuscitado contadas por outros evangelistas. Independente do tempo e lugar do texto, a mensagem que nos oferece para esse domingo está em consonância com o conjunto do Evangelho de Marcos que busca responder “quem é Jesus?” e “como seguir Jesus?”.

“São estes os sinais que hão de acompanhar… expulsarão demônios, falarão línguas novas, pegarão em serpentes e não sofrerão mal ainda que bebam veneno mortal, imporão as mãos obre os enfermos e eles ficarão curados.” Como entender esses sinais em nossos dias? Seguiremos a proposta de reflexão de Carlos Mesters e Mercedes Lopes:

EXPULSAR OS DEMÔNIOS: é combater o poder do mal que estraga a vida. A vida de muita gente ficou melhor pelo fato de ter entrado na comunidade e de ter começado a viver a Boa Nova da presença de Deus em sua vida.

FALAR LÍNGUAS NOVAS: é começar a comunicar-se com os outros de maneira nova. Às vezes, encontramos uma pessoa que nunca vimos antes, mas parece que já nos conhecemos há muito tempo. É porque falamos a mesma língua, a língua do amor.

VENCER O VENENO: há muita coisa que envenena a convivência. Muita fofoca que estraga o relacionamento entre as pessoas. Quem vive a presença de Deus dá a volta por cima e consegue não ser molestado por este veneno terrível.

CURAR DOENTES: em todo canto onde aparece uma consciência mais clara e viva da presença de Deus aparece também um cuidado especial para com as pessoas excluídas e marginalizadas, sobretudo para com os doentes. Aquilo que mais favorece a cura é a pessoa sentir-se acolhida e amada.[i]

 

Celebrar a festa Ascensão de Jesus é reconhecer que a Sua ação libertadora não terminou, mas está espalhada pelo mundo por meio das pessoas que assumem a causa do Reino. É momento de discípulos tomam consciência da sua missão e do seu papel no mundo. A Igreja (a comunidade de discípulas e discípulos renovarem sua fé e compromisso com a vida e a transformação das realidades que a negam.

Nesse dia somos convidados/as a orarmos pela unidade. Celebramos o início da Semana de Oração pela Unidade Cristã que traz como tema: “A Mão de Deus nos une e Liberta”. Essa Semana de Oração, que sempre é realizada na América do Sul entre as Solenidades da Ascensão do Senhor e Pentecostes, neste ano de 2018, acontecerá entre os dias 13 e 20 de maio, seguindo um calendário pascal.

Jesus chama e envia para a missão. A continuidade do Seu projeto depende de pessoas que estejam dispostas a continuar a caminhada iniciada por Jesus. A missão é comunitária e exige despojamento, simplicidade e alegria. Num mundo marcado pela desesperança, a missionária e o missionário são chamados a ir ao encontro das pessoas para reafirmar os sonhos que movem o ser humano.

 

 

 

[i]Texto extraído do livro “Caminhando com Jesus: Círculos Bíblicos de Marcos”. Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes. Uma publicação do CEBI.

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