Pentecostes!

 Pentecostes!

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“A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.”

Domingo de Pentecostes
1° leitura: At 2, 1-11; Salmo 103; 2° leitura: 1Cor 12, 3b-7.12-13; Evangelho: Jo 20, 19-23.

 

Estaremos aqui reunidos, como estavam em Jerusalém.

Pois só quando vivemos unidos é que o Espírito Santo nos vem.

 

Encerramos neste domingo o ciclo da Páscoa[i]. Celebramos a festa do Pentecostes. Festa esta que já era comemorada no tempo de Jesus. Tendo seu nome vindo do hebraico, significa o quinquagésimo dia da festa, uma vez que é vivida 50 dias depois da Páscoa. Consistia à época em oferecer ao templo as primeiras colheitas e também em comemorar o “dom da Torá”, que era a Lei dada por Deus a seu povo no monte Sinai.

 

Da festa judaica, a tradição cristã fez suas releituras. O texto narrado pela comunidade Lucana nos Atos dos Apóstolos, nos faz atentar para alguns elementos da vinda do Espírito Santo: se dá em Jerusalém, ou seja em Sião (encontramos várias passagens nas quais Deus se manifesta em montes e aqui fazemos paralelo com Deus que entrega as Tábuas da Lei no monte Sinai). O vento e fogo de Pentecostes, fazem memória à outras passagens do Primeiro Testamento, nas quais Deus se apresenta nestas formas (conf. Ex 14, 21; 13, 20-22; 19, 18). É um Deus que sopra impetuosamente, na “violência” de um espírito no que move na direção do Reino de Deus. A multidão que aparece remonta ao povo de Deus que recebeu com Moisés os Mandamentos da Lei.

 

Se no Pentecostes judaico, a centralidade está na palavra escrita, aqui neste novo Pentecostes a centralidade está na palavra proferida. Dentre a multidão que estava em Jerusalém naquela ocasião, havia muitos “estrangeiros”, os versículos de 9 a 11 (At 2) nomeia vários grupos. Quando o Espírito Santo desce sobre os apóstolos, estes passam a falar em outras línguas. Nos versículos de 6 a 9, fica claro que este falar em línguas, era os apóstolos falarem na língua materna das pessoas presentes e estes estrangeiros ficaram maravilhados. Assim, no novo Pentecostes a Palavra deve ser dita para todos/as e entendida por todos/as. Isso atenta para a universalidade. A evangelização deve ser acessível, clara. Não se trata, portanto, de falar línguas inesprimíveis, que a grande maioria das pessoas não entendem… É o contrário, é uma evangelização que chega até mesmo em outras culturas e se faz clara no apresentar as maravilhas de Deus (conf. At 2, 11).

 

No Evangelho, temos os discípulos ainda com medo, trancafiados em uma casa. Neste contexto, Jesus chega, mostra suas chagas e deixa os discípulos contentes, por terem visto o Senhor. Isto por si só já é desafiador. Jesus ao mostrar-lhes as mãos e o lado, já presume a falta de fé e talvez a falta de intimidade dos seus discípulos que precisam ver marcas, provas reais para acreditarem. Talvez alguns de nós até diriam que ‘acreditar é mesmo difícil, se fosse eu também naquela situação não acreditaria’. Arriscaria me a dizer um jargão de nossos dias: somos todos Tomés. Mas preste atenção, não foi apenas Tomé que lançou mão das chagas de Jesus para acreditar.  Tenho impressão que Jesus deve ter pensado, homens de pouca fé!!! Lembremos do Pequeno Príncipe: o essencial é invisível aos olhos.

 

Mas o Evangelho ainda traz mais riquezas para este domingo de Pentecostes. Jesus nos dá a paz duas vezes. Parece mais uma vez que os discípulos não a receberam ou não a tomaram para si.  Foi preciso dizer de novo. Porém qual será a paz de Jesus, seria a paz da pombinha branca, da calmaria? Pode até ser que seja, mas não é só isso. Na verdade é muito mais que isso. A paz de Jesus, vence o medo. A paz de Jesus, vence a paralisia, envia. A paz de Jesus, nos tira da comodidade do teto seguro e nos lança na imprevisibilidade da vida. A paz de Jesus, nos tira do esconderijo e nos coloca diante dos enfrentamentos necessários para pautar a vida.

 

E não para por aí… O que precede o sopro de Jesus sobre os discípulos, dando-lhes o Espírito Santo, é o envio: “Assim como o Pai me enviou eu também envio vocês” (Jo 20, 21b). É o Santo Espírito que nos anima em nossa jornada de sermos como Jesus, de construirmos o Reino de Deus.

 

E como se dá a continuação da proposta de Jesus? Com várias pessoas aderindo ao projeto do Reino e trabalhando de diferentes maneiras, contudo corroborando para que a vontade do Pai se cumpra. No que várias pessoas atendem ao chamado, cada um/a colabora com seus dons, seus talentos; fazendo diversificados serviços/ministérios. É isso que lembra Paulo em sua carta à comunidade de Corinto. E tem mais, Paulo diz no versículo 7, que a cada um/a é concedida a manifestação do Espírito para o bem comum. Portanto, nada de tirar vantagens pessoais, ainda mais se for em nome de Deus. Outro aspecto interessante da segunda leitura é que todos/as, repito, todos/as (sejam judeus ou gregos, escravos – sim naquela época haviam escravos! ou livres; fomos batizados para sermos um só corpo, todos/as bebemos do mesmo Espírito, ou seja todos/as temos a mesma dignidade… quão revolucionário é isso não?

 

Termino trazendo uma poesia/oração de D. Pedro Casaldáliga:

Vento de Deus

Tu que sopras onde queres,

Vento de Deus dando vida,

sopra-me, sopro fecundo!

Faze-me todo janelas,

olhos abertos e abraço.

Leva-me em Boa Notícia

sobre os telhados do medo.

Passa-me em torno das flores,

beijo de graça e ternura.

Joga-me contra a injustiça

em furacão de verdade.

Deita-me em cima dos mortos,

boca-profeta a chamá-los.

 

Por Pedro Caixeta

CEBI GO

Coordenador Nacional da PJ (2006 – 2009)

pedro.caixeta.pj@gmail.com

[i] Neste domingo ainda, encerra-se a SOUC – Semana de Oração pela Unidade dos/as Cristãos. Somos convidados/as a com nossos irmãos/as cristãos/ãs, dar testemunho de unidade, cumprindo o desejo de Jesus de todos/as sermos um (Jo 17, 21). O tema deste ano é: Reconciliação – o amor de Cristo que nos move. Não só nesta semana, mas em todo tempo, somos chamados/as ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso.

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