[Nossa Voz] Metodologia e juventudes: Conselhos de Jetro aos nossos grupos

 [Nossa Voz] Metodologia e juventudes: Conselhos de Jetro aos nossos grupos

PJ Jetro 2

Cleber Pagliochi*

No caminhar revelamos nosso jeito de ser. Quando olhamos alguém caminhando, notamos rapidamente como esta pessoa se sente. Se está de cabeça baixa, algo o preocupa. Se está com a cabeça alta, pode ser alguém altivo, “nariz empinado” como costumamos dizer. Se caminha mancando, está machucado, … e aí segue muitos elementos que poderiam ser analisados.

Assim também acontece quando estamos em qualquer lugar, com qualquer pessoa: mostramos quem somos no jeito de fazer as coisas, de se relacionar, ou seja, “metodologizamos”. Conforme esta metodologia, que considero nosso jeito de ser, construímos o mundo que nos rodeia e os grupos que participamos. Por isso, é muito importante que reflitamos nossa metodologia, nosso caminhar. Penso em uma cena bíblica para este fim.

A cena é a do encontro de Jetro com Moisés (Ex 18, 14-24). Depois da fuga da escravidão organizada e liderada por Moisés, o povo caminha até as terras de seu sogro, Jetro. Vários dias neste local e a atitude observadora, fizeram Jetro perceber que o jeito de seu genro liderar não estava certo. Ele concentrava todo o poder, decidia tudo sozinho… Diante disto, Jetro diz: “O que é que você está fazendo com o povo? Por que está sentado sozinho, enquanto todo o povo te procura de manhã até a noite?” (Ex 18,14). Moisés responde: “É porque o povo vem a mim para consultar a Deus. Quando têm uma questão, vêm a mim. Julgo entre um e outro e lhes faço conhecer os decretos de Deus e as suas leis” (Ex18,15-16).

Esta ação de Moisés é facilmente reproduzida em nossos grupos, nas nossas ações, no nosso jeito de liderar. É fácil encontrar líderes que não conseguem guiar sem ter medo de perder o poder. Mal sabem que o poder compartilhado faz com que seja muito mais fácil de guiar. Mas o argumento não é este, a facilidade, mas sim o processo feito. Um grupo onde o coordenador lidera sozinho está fadado a morte. Esta afirmação é forte, mas é real. Quando alguém não consegue inserir outras pessoas no processo, se torna indispensável ao grupo, e quando este sai, o grupo morre. Como afirma Jetro: “certamente desfalecerás, tu e o povo que está contigo, porque a tarefa é muito pesada para ti; não poderás realizá-la sozinho” (Ex 18, 18).

Quando olhamos esta ação, notamos que os demais jovens não compreendem a caminhada, não foram iniciados, não são protagonistas, não vivem a liberdade do grupo.Consequentemente, não saberão dar continuidade a este. Para que isto não aconteça, é importante que escutemos o conselho de Jetro: “Representa o povo diante de Deus, e introduze as suas causas junto de Deus. Ensina-lhes os estatutos e as leis, faze-lhes conhecer o caminho a seguir e as obras que devem fazer” (Ex 18, 19-20). Esta parte do conselho é central ao texto. Ela sugere a necessidade de partilhar o conhecimento, partilhar o modo de ser.

É importante que todos os que caminham saibam para onde vão, amadureçam este caminhar, participem da caminhada. O bom líder é aquele que consegue partilhar daquilo que sabe. Afinal, partilhando se constrói junto um caminhar, abre espaço para as diferenças de pensar e de ser, cria ambiente para o novo ser gestado. Além disso, a abertura gera também um comprometimento, atitude fundamental para a continuidade do processo.

Jetro segue dizendo: “Mas escolhe do meio do povo homens capazes, tementes a Deus, seguros, incorruptíveis, e estabelece-os como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez. Eles julgarão o povo em todo tempo. Toda causa importante trarão a ti, mas toda causa menor eles mesmos julgarão. Assim será mais leve para ti, e eles levarão a carga contigo. Se assim fizeres, e Deus te ordenar, poderás então suportar este povo, que por sua vez tornará em paz ao seu lugar” (Ex 18, 19-23).

Esta parte final do conselho nos conduz a existência de papéis nos grupos e na Pastoral da Juventude. Cada um, ao seu modo de contribuir pode fazer algo. Uns sabem cantar, outros tocar, outros ainda se dão bem em organizar o ambiente de encontro. Estes dons precisam ser valorizados. Estas diferenças de dons, posta em serviço e coordenada, auxilia na dinamicidade e alegria do grupo.

Outro elemento importante que perpassa toda metodologia proposta por este texto bíblico é a de que somos sempre guiados por Alguém maior. Por um Plano de Deus que nos orienta, ao qual chamamos de Civilização do Amor ou de Reino de Deus. Neste sentido, quem lidera os grupos não lidera para si, para se enaltecer, para criar fama ou status. Quem lidera, assume uma grande missão, a de auxiliar no caminho da libertação, como fez Moisés.

Portanto, é importante que em nossas ações saibamos que nosso caminhar é sempre conjunto, é partilhado. Bom líder é aquele que consegue fazer com que todos participem e sentem-se parte do caminhar.

Cleber Pagliochi é presbítero da Diocese de Chapecó/SC e militante da Pastoral da Juventude.

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