“Jovem, eu lhe ordeno, levante-se.”

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10° domingo do tempo comum:

1°leitura 1Rs 17,17-24

Salmo 29

2° Leitura Gl 1, 11-19

Evangelho Lc 7, 11-17

 

Este título é um imperativo que sai da boca de Jesus e que se destaca na liturgia deste final de semana. Somos convidados/as pelas leituras a refletir sobre a vida, numa perspectiva de gênero e ainda cantar glória a Javé, pois Ele dá força ao seu povo, e o abençoa com a paz (Sl 29,11).

Acolhemos o relato de dois textos nos quais a vida é devolvida a um filho de uma viúva. No evangelho, Jesus que chega a cidade de Naim e encontra um cortejo que traz uma situação de morte: o filho único de uma viúva está morto. Este encontro se dá no portão da cidade que é uma fronteira a ser observada. Segundo a lei mosaica, os mortos eram impuros e por isso deveriam ser enterrados fora da cidade, mas a morte que sai da cidade encontra também com Jesus que entra na cidade juntos com os/as seus/suas, trazendo sinal de vida.

Percebamos que Jesus se compadece com a dor da viúva, e por sua proatividade sem que ninguém lhe peça, aproxima-se, fala com a mulher que chora e vai até ao caixão fazer algo por ela.

Sim! Ao ressuscitar o jovem, Jesus além de lhe devolver a vida, devolve a dignidade àquela mulher, pois vivendo em uma sociedade patriarcal, sendo ela viúva, sua referência passara a ser seu filho, e na ausência deste, ela estaria à mercê de seus familiares ou vizinhos[i].

A outra passagem se desenvolve com o profeta Elias e a viúva de Sarepta. Em meio a uma grande seca ela o acolhe em sua casa, depois de tê-lo encontrado na porta da cidade. Mesmo pobre, sem ter o que comer, reparte com ele o pouco que tem. Porém seu filho fica doente e morre. Elias, que crê em Javé, um Deus que caminha com seu povo; pede a Deus que a vida volte ao menino, e Javé ouve a voz de Elias e atende ao seu pedido. A viúva por sua vez reconhece em Elias, um homem de Deus que o anuncia. Este texto deve ser lido num cenário maior, localizando-o na Sidônia, onde Baal era o Deus nacional e que está a serviço dos reis, justificando inclusive um sistema de opressão; mas é aí nesta terra onde Javé vai mostrar que é Ele quem socorre aos mais pobres e lhes dá a vida.

Ambas as histórias têm muitas questões a serem refletidas para que nossa juventude levante. Levantar aqui significa ressuscitar, voltar à vida! O lugar da fronteira, que é um lugar de limite, muitas vezes de conflitos, outras vezes de contato com o diferente e com a diversidade é evocado nas duas histórias, tendo como lugar geográfico a fronteira da cidade. A população brasileira hoje é majoritariamente urbana, o que encontramos nesta fronteira da urbanidade nos dias atuais? Que movimentos de vida podem vir de fora desde lugar que muitos padronizaram como sendo o melhor, e que pode às vezes não o ser? Ao pensarmos isso não vamos ficar apenas na lógica da cidade e do campo, o texto bíblico traz uma situação que revela uma relação na lei do puro e do impuro. O que tem de pureza e impureza dentro de nossas cidades hoje?

Pensar também a relação da/com a mulher, é uma boa chave de leitura, em tempos que temos conversado sobre a cultura do estupro após a barbárie que aconteceu com a jovem carioca de 16 anos. O que temos de patriarcado ainda hoje? Se devemos fazer como Jesus: comovermos, aproximarmos e agir, como fazer?

Por fim, para sermos seguidores/as de Jesus assim como Paulo escreve à comunidade da Galácia, devemos ver que a vida é maior do que a Lei[ii], e daí anunciar a Boa Notícia entre as nações.

 

Por Pedro CaixetaCEBI GO

 

[i] Segundo Pagola, no livro Jesus: aproximação histórica, naquela sociedade patriarcal a mulher é “propriedade” do varão. Primeiro pertence ao pai; ao casar-se, passa a ser propriedade do esposo; se fica viúva, pertence aos filhos ou volta ao pai e aos irmãos. É impensável uma mulher com autonomia.

[ii] Fazendo referência a Jesus que pauta primeiramente a vida, ante a Lei de Moisés (cf. Mc 2, 13 – 3, 7a).

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