José, filho de Davi, não tenha medo

 José, filho de Davi, não tenha medo

luz_caminhada_novo_advento4“José, filho de Davi, não tenha medo…”

4º domingo do Advento.

1° leitura: Is 7, 10-14

Salmo 23

2° leitura: Rm 1, 1-7

Evangelho: Mt 1,18-24

 

Eis que já vamos acender a última vela coroa do Advento. Aproxima-se cada vez mais do nascimento Daquele que chamarão de Emanoel, nome que significa ‘Deus conosco’.

A liturgia de hoje nos convida a rememorar a história de fé do nascimento de Jesus. Neste Evangelho, a comunidade de Mateus, que escreve para especialmente para os judeus convertidos ao cristianismo, faz questão de trazer José como filho de Davi, assim Jesus é da descendência esperada por eles. Se voltarmos uns versículos antes, no primeiro versículo deste livro, vemos que Jesus é filho de Abraão. E assim herdamos também a história da fé destes irmãos/ãs e temos nos patriarcas e matriarcas de outrora, nossos pais e mãe da fé.

Mas a história não fica nisso aí. Maria estava comprometida em casamento com José e antes de viverem juntos, ela encontrou-se grávida… O que isso significava naquela época? Se José a denunciasse publicamente, Maria seria apedrejada até a morte… Maria ao saber do anjo Gabriel que seria mãe de Jesus (Lc 1, 26-38), parte apressadamente para a casa de Isabel (Lc 1, 39) e por lá fica três meses (v. 56). Mas como voltar para casa? O que faria José? O sim corajoso de Maria tem um correspondente em José. A comunidade de Mateus se refere a José como justo. (Mt 1, 19). Ao abandoná-la em segredo, José poupa a vida de Maria e por conseguinte de Jesus e ainda abre espaço para ser tocado por Deus que em sonho lhe inspira a não temer em receber Maria. E assim José o faz. José aceita ser pai de Jesus, e desta maneira se cumprir as escrituras.

A postura de José que muitas vezes é ofuscada em nossas memórias e inclusive na história bíblica chama a atenção neste evangelho. Primeiramente encontramos um José justo. A confiança que José tinha em Maria, o faz não praticar a justiça das leis farisaicas. Aqui cabe uma reflexão: as leis daquele tempo (como a do apedrejamento por adultério) eram justas? E hoje, nossa justiça é justa? Outro aspecto é a aplicabilidade das leis. Apedrejavam somente as mulheres adúlteras, ou apedrejavam também os homens adúlteros? Hoje, a lei tem o mesmo peso se temos um jovem pobre negro da periferia, ou um branco, com posses e “de família” cometendo um mesmo delito? Há que se dizer que até hoje temos culturas que permitem o apedrejamento de mulheres adúlteras. Como contribuir para que nossas culturas religiosas não sejam violentas e estimulem a cultura da não violência?

Também, depois da revelação divina, José resolve acolher/aceitar sua esposa (Mt 1, 24). Esta parte do texto por vezes passa despercebida, porém ela tem muito a nos ensinar… Quando José aceita participar do plano de salvação de Deus, ele acolhe a Maria o que muda radicalmente seu projeto de vida… O carpinteiro de Nazaré, passa a cuidar da gravidez do Filho de Deus, e o faz como pode… mas cuida… faz sua paternidade responsável, levando Maria para Belém, para se alistar (no recenseamento) em sua cidade, pois ele era da casa e da família de Davi (Lc 2, 4); e também o faz apresentando Jesus ao templo (v. 22), admirando-se com o que diziam do menino Jesus (v. 33), fugindo para o Egito para salvar Jesus (Mt 2,14) dentre outras coisas que não sabemos nós, mas que que foi feito pelo pai de Jesus, inclusive na sua relação com Maria, sua companheira e mulher.

Tudo isso nos faz repensar nosso modelo de masculinidade e de paternidade. Aquela sociedade era machista e hoje ainda não o deixamos de ser. O padrão de macho que temos na sociedade fere inclusive muitos homens que por inúmeros motivos não cabem nele. Como será que foi para José viver tudo isso? Como os homens hoje têm vivido sua masculinidade atualmente? A história de José nos traz alguma luz? As paternidades têm sido responsáveis? Com toda licença: homens também ficam grávidos, não só suas companheiras; homens também educam, não só as mães; homens também cuidam, não só suas mulheres; homens também vive o mistério divino de participar da criação… e lembrando do Papa Francisco, “não existem mães solteiras, existem mães. Porque mãe não é um estado civil.” E poderíamos acrescentar ainda que em muitos casos de mães que cuidam sozinhas de seus filhos, existem pais que não assumiram seu papel como realmente deveria fazer…

A liturgia ainda nos convida à recebermos a graça e o apostolado, que vem de Jesus Cristo nosso Senhor. Este convite feito à comunidade de Roma, por Paulo, é também feito a cada um/a de nós. Lembremos que nós da Igreja Latino Americana e Caribenha, assumimos nossa fé comprometida com nossos povos e com a nossa realidade tendo o ímpeto de sermos discípulos e missionários de Jesus. E ao fazermos nossa caminhada de construção do Reino de Deus, temos que converter pequenas, mas contundentes posturas pessoais, contribuir para a justiça social e espalhar a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim poderemos entrar no santuário, na montanha de Javé, para receber sua benção e sua recompensa, como nos diz o salmista.

 

Por Pedro Caixeta

CEBI GO

Coordenador Nacional da PJ (2006 – 2009)

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