Jesus de Nazaré: uma pessoa, um lugar, um jeito de ser e viver

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Continuamos nossa caminhada quaresmal e a cada domingo contemplamos um aspecto diferente do seguimento de Jesus.  Hoje nossa meditação se dá a partir dos debates e disputas de Jesus com/sobre o Templo de Jerusalém.

Diferente dos outros evangelhos que colocam este episódio mais na conclusão da caminhada de Jesus, a comunidade joanina o traz no início do Evangelho (Mt 21,12ss; Mc 11,11.15.17; Lc 19, 45ss). Logo após as bodas de Caná (2,1-11). Podemos vê-lo como um desdobramento, como um caminho para viver a aliança, nova relação com Deus, apresentada na cena do casamento ao qual Jesus foi convidado.

A figura que poderia ter como central neste domingo é o Templo de Jerusalém, ou melhor, o questionamento central do texto se dá ao redor do dele. Durante o período da monarquia os judeus tiveram como sinais da aliança com Deus: o templo (1Rs 6,1-14) , o Rei (Sl 72) e a terra (Gn 15,1-21). Estes estavam no imaginário do povo como reflexos da aliança e como caminhos para vivê-la. Com o fim da monarquia e com as deportações e ocupações da terra restou o Templo. Este seria o lugar e o sinal da aliança.

Temos no Evangelho de João duas provocações que a comunidade joanina faz ao Templo e que iluminam nossa caminhada de discípulos de Jesus. No tempo de Jesus o Templo de Jerusalém era o lugar de culto e dos judeus fazerem sacríficos (Lc 2,21-27). Vinha gente de todo o país. Por isso, em sua entrada estavam vendedores de animais que eram usados nas mais diversas ofertas. O dinheiro dos romanos –naquela época– era considerado impuro pelos judeus.  Então primeiro você deveria trocar o dinheiro que trazia de casa pela moeda usada no Templo para depois comprar os animais para o sacrifício. Ao redor do tempo se construiu uma rota de comércio e alguns começaram a explorar a devoção das pessoas simples.

O que esta na “porta do Templo” que nos atrapalha hoje?

Também os profetas diziam que nos “tempos messiânicos” o messias iria purificar o Templo (Zc 14, 21). Restaurar o Templo, ou seja, retomar o que há de fundamental na relação com Deus seria tarefa do Messias, do Cristo. Se olharmos com cuidado para nossas vidas podemos reconhecer que vamos criando “cambistas” e “vendedores de pombas” que nos desvirtuam do caminho. Por vezes, damos tanto valor a questões acessórias na caminhada que nos impedimos de mergulhar no encontro com Deus. O que esta na “porta do Templo” que nos atrapalha hoje?

O segundo ponto do debate é questão da destruição do templo. Quando a comunidade joanina terminou a redação de seu Evangelho o Templo já havia sido destruído pelos romanos fazia algumas décadas. Então é provável que a comunidade aproveite esta memória para dizer algo que é fundamental para ela. Os discípulos de Jesus não devem ter “saudades do Templo de Jerusalém”, por que eles têm seu Mestre. Para os discípulos de Jesus de Nazaré o lugar por excelência de relação com Deus é o próprio Cristo. A partir daí podemos nos fazer uma pergunta: Jesus realmente é o centro de nossa fé? E este questionamento deve ecoar em nossos corações durante toda a quaresma. Podemos dizer que este tempo litúrgico nos possibilita, a partir do celebrado e meditado na liturgia, reorganizar a vida (rever práticas, mesmo que por um período) para ter como foco o que é fundamental.

Para contribuir nesta reflexão as duas leituras aprofundam o debate. Na primeira (Ex 20,1-3.7-8.12-17) que é a narrativa dos 10 mandamentos temos o caminho para viver a aliança. Sair do Egito, ser livre. É preciso aprender a viver enquanto alguém livre e fazer escolhas que assegurem a liberdade. Viver o projeto de liberdade (Ex 20,1-2). O sonho e a possibilidade de uma sociedade de novas relações, sem opressões. Construir relações que promovam, respeitem e fomentem a vida (Ex 20, 3-17). Não ter imagens esculpidas  (Ex 20,4-5) deve ser olhado não somente nas imagens de gesso, madeira ou metal para Israel recém liberto, para os discípulos da primeira hora e para nós, o vital é aprender a relativizar as imagens que trazemos em nossas cabeças. Isso mesmo!!! Se Deus é mais do que podemos compreender então em nossa vida é preciso ter lugar para que ele nos surpreenda (Is 55,6-8). A quaresma é um tempo de permitir que Deus nos surpreenda.

Ser, crer e viver

Continuando este caminho a segunda leitura retirada da carta de Paulo a comunidade de Corinto (1Cor 1,22-25), nos provoca a reconhecer que Deus vai além de nossas lógicas. Anunciar Jesus crucificado é anunciar o Cristo e seu projeto. Afinal, a cruz é consequência de toda uma trajetória. Ter o Cristo como centro de nossas vidas é sintonizar nossas escolhas, causas e trajetórias com o projeto de Jesus. Ele é o “Novo templo”, “lugar” onde Deus se deixa encontrar. Num tempo onde se fala tanto do “mercado” tem esta ideia provocativa a vida do povo ontem e hoje é mais importante do que o “lucro dos cambistas”. A experiência feita no templo é maior do que o comercio que acontece na sua porta.

Nós cristãos não nos dedicamos a uma ideia, seguimos uma pessoa, que reconhecemos como o “lugar” no qual Deus nos espera, nos acolhe, nos impulsiona. Esta profissão de fé se traduz num jeito de “ser, crer e viver”.

Por Joilson Toledo, FMS

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