É preciso que o Filho do Homem seja levantado

 É preciso que o Filho do Homem seja levantado

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Neste caminho quaresmal, encontramos hoje textos que nos instigam muito. É preciso, a convite desta liturgia, avaliar nossa postura fazendo um exame de consciência sobre nossas posturas e crenças.

 

Iniciemos por encontrar com a comunidade joanina que escreve o relato de suas memórias de Jesus lá pelos anos 90 d.C. num contexto de conflito com o Império Romano, que na figura do imperador Domiciano, se proclama deus e acirra a perseguição aos/às cristãos/as. O martírio era uma realidade forte neste contexto!

 

A comunidade se recorda da conversa entre Jesus e Nicodemos e num dado momento a fala de Nicodemos é silenciada e Jesus parece falar com a humanidade toda, mas como se falasse individualmente com cada um/a. É o primeiro momento que Jesus fala de si próprio, logo Ele que gostava tanto de perguntar quem era Ele aos/às outros/as.

 

E Jesus inicia lembrando o evento da serpente de bronze no deserto (Nm 21, 4-9). Num dado momento da história do povo de Deus, em que muitos/as estavam sendo picados/as por cobras, Javé mesmo mandou que Moisés colocasse uma serpente de bronze num madeiro e assim todos/as que fossem picados/as e olhassem para ela seriam curados/as.

 

A lembrança de Jesus está correlacionada como mistério da vida, paixão, morte e ressurreição que Ele mesmo passaria. Jesus ao morrer crucificado é também posto no madeiro e fonte de cura para nós.

 

Jesus neste momento é levantado… por que? É levantado por ter em sua vida vivido e pregado o Reino de Deus, a Boa Nova para os homens e as mulheres de boa vontade. É levantado, mas não exaltado; tentaram na humilhação de torturá-lo e de lhe dar morte de cruz, apagar sua memória. Tentaram calar Jesus! Tentaram manchar a imagem de Jesus! Tentaram amedrontar os/as seguidores/as de Jesus… mas não deu certo!

 

O próprio Jesus diz que todo/a aquele/a que Nele acreditar, terá a vida eterna e que Deus nos deu seu único filho por amor…

Tudo por causa de um grande amor. Tudo do por causa de um grande amor. Tudo, tudo, por causa de um grande amor.

 

Sim, foi por amor e no verso 17 (Jo 3) vemos que Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar este, mas para que o mundo seja salvo por meio dele. A proposta do Reino é maior que a cruz. Naquela época, em que vários cristãos/ãs estavam morrendo por causa do Evangelho era preciso dizer isto. Era preciso alimentar a esperança e a espiritualidade do povo, para conservar a luta pelo Reino mesmo em terras de outros impérios. Mesmo que a fidelidade à causa àos/às mais pobres e marginalizados/as e a crença num Deus Conosco e Libertador, fosse um risco inclusive de morte.

 

Aqui podemos fazer um link com o texto do 2º Crônicas: as autoridades, os sacerdotes e o povo também aumentaram os crimes que cometiam, imitando as abominações das nações.

 

Estamos em outra época, estamos prestes de viver o Exílio da Babilônia. O povo que o Tempo profanou; que não escutou as vozes dos mensageiros de Deus, profetas e profetizas de seu tempo, foi levado para a Babilônia… isso os que sobreviveram. Porém, estes/as que foram, foram para ser escravos/as em terras alheias. Aqui não se trata meramente de um castigo divino, como a releitura sacerdotal aponta[i]. Nada mais aconteceu que a tomada do poder pelos caldeus e as consequências de outro império mandando na região, que outrora foi a nossa terra prometida. É a lógica imperialista que é um problema… sejam os Babilônicos, sejam os Romanos, sejam os atuais impérios, que politicamente se organizam de outra forma mas que mantém as mesmas práticas ou outras contemporâneas. Quais outros imperialismos vivemos hoje? É preciso sempre se perguntar… e compreender a história e também a história de nossa fé para poder nos ajudar a olhar pelo retrovisor e a nos conduzir melhor pelo caminho rumo ao futuro que virá.

 

O Salmo 137 (136) nos ajuda a rezar o lamento dos/as exilados/as. Como cantar alegres se estamos exilados/as, se nos tiraram a dignidade, se choramos pela identidade? Sim, quantas vezes sentamos à beira dos rios, a beira de nossas camas, ou ficamos pelas ruas ou dentro de nós mesmos chorando com saudades de Sião, com saudade de nosso canto, com o desejo de ter algo de volta ou mesmo ainda pela garantia nossos direitos?

 

E assim dialogamos com a carta de São Paulo aos/as companheiros/as de Éfeso. É pela graça! É pela graça que somos salvos. Deus é rico em misericórdia! Ele nos dá vida, mesmo que estando mortos em nossa faltas. Comentemos erros, pecamos contra o projeto de Deus. Vejamos nós que estamos ainda na semana de celebração e luta do Dia Internacional da Mulher. Quanto de machismo e patriarcado carregamos? Quanto de violência contra as mulheres temos perto da gente e a gente finge não ver, pois nos ensinaram que em briga de marido e mulher não se mete a colher… Isso é Reino de Vida ou de Morte? Trazendo a alegoria da comunidade joanina, é sinal de luz ou de trevas, ver que muitas vezes os agressores são gente de própria família. É vontade de Deus que elas ganhem menos que os homens fazendo o mesmo trabalho?  A PJ está em todo Brasil com uma campanha de enfrentamento aos ciclos de violência contra a mulher. Isso sim gera vida, isso sim é sinal de luz!!!

 

Se escolhermos caminho das trevas, se não acreditamos em Jesus, sua pessoa e proposta, se não tememos a Deus, a comunidade de João já nos adverte: já estamos julgados/condenados (3,18). Sim, a condenação não virá na depois… ela já está para aqueles/as que escolheram errado. Estes/as às vezes pensam estar se dando bem mas na verdade… Tomemos por exemplo nossos jovens que estão envolvidos/as com o tráfico, qual sua expectativa de vida? Ou que família ferida é esta em que reina a violência, seja ela física, psicológica, sexual…

 

A graça de Deus que é Pai e Mãe de amor e bondade, nos envolve mesmo que errados/as estivermos, mas nos pede que tenhamos temor. Temor aqui não é medo, é procurar a luz, é ser da luz, é iluminar, como quem com a vida traz a luz que vence a escuridão. Temor é dom do Espírito que nos motiva a caminhar nos passos de Jesus, este Moreno de Nazaré.

 

Este mesmo que foi levantado. Sim, pensaram eles que apagariam da história o rastro de Jesus. Mas na loucura da cruz, Jesus foi levantado e ganhou destaque: sua causa, sua luta, sua proposta. Levantada ficou sua memória, e é preciso saber as coisas do alto, é preciso nascer do alto… somos águias, não galinhas[ii].

 

Por Pedro Caixeta

CEBI GO

Coordenador Nacional da PJ (2006 – 2009)

[i] Releitura sacerdotal do Segundo Livro de Reis.

[ii] Alusão ao livro A águia e a galinha, de Leonardo Boff.

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