Cuidado! Evitem todo tipo de ganância

 Cuidado! Evitem todo tipo de ganância

Luz_Caminhada

18º domingo do tempo comum
1ª leitura Ecl, 1,2; 2,21-23
Salmo 89
2ªleitura Cl3, 1-5.9-11
Evangelho Lc12, 13-21

Por Pedro Caixeta.*

Uma reflexão sobre o trabalho e sobre o possuir: este é o convite da liturgia deste domingo, dia do Senhor. Aliás, domingo; nós cristãos, reservamos para o descanso, para a contemplação da criação e para o culto a Deus Pai Criador, a Deus Filho Redentor e a Deus Espírito Santo que nos move inclusive em direção à memória da tradição judaica, estabelecendo no ritmo próprio da semana este tempo de descanso e de celebração, conforme nos diz Gn2, 1-3. E até Deus descansou…

Em nossa sociedade capitalista contemporânea, aprendemos desde cedo que tempo é dinheiro. E muitas vezes nos acostumamos a uma rotina de trabalho que nos escraviza, retirando de nós muito mais que o necessário para viver.

Na primeira leitura, lemos que a sabedoria popular na Bíblia, nos provoca a enxergar as ilusões e vaidades de nosso tempo. Pensar na quantidade de horas da nossa jornada de trabalho é pensar na vida de nosso povo e no jeito que acreditamos que devemos viver o Reino. Atualmente quando setores da sociedade dizem da ampliação da jornada semanal de trabalho (até para 80h!), em contrapartida há uma luta histórica das centrais sindicais de redução da jornada de 44h para 40h sem redução de salários; temos que nos perguntar, qual proposta é mais coerente com a vontade do Deus da Vida. O versículo 23 nos ajuda a perceber que, de dia sua tarefa é sofrer e penar, e mesmo de noite sua cabeça não descansa. Também isso é ilusão.

Já Paulo, escreve aos Colossenses (e por que não para nós), para que busquemos as coisas do alto, pois as nossas vidas estão escondidas com Cristo em Deus. Desta feita, temos que buscar o que é próprio de um/a seguidor/a de Jesus, e para tal Paulo nos dá algumas pistas de como fazer e dentre elas está morrer para a cobiça de ter, o que para ele é uma idolatria (v. 5). Não nos esqueçamos da Campanha da Fraternidade de 2010, em que rezávamos e discutíamos que não podemos servir a Deus e ao dinheiro (conf. Mt 6,24).

Não se trata aqui de estimular a preguiça; uma vez que esta é até mesmo um pecado capital. Mas sim, temos uma crítica clara a um sistema de sociedade alicerçado pelo poder do capital e centrado na exploração da mão de obra e do trabalho alheio.

Nossa tradição traz que Deus nos disse que comeríamos com o suor de nosso rosto (conf. Gn 3,19a), do nosso trabalho. Somos convidados/as com o nosso labor a zelar da criação, servindo a Deus e ao povo, e isso é divino e dignifica o homem/a mulher. Contudo, a nossa subsistência não precisa de tanto… Jesus mesmo nos exorta para cuidarmos, para evitar todo o tipo de ganância (Lc 12, 15a). Temos que lembrar que nosso ofício é cuidar de nossa Casa Comum, antes de mais nada.

Um jogo de palavras interessante, da sabedoria popular, é a pergunta: você vive para trabalhar ou trabalha para viver? A música ‘Comida’ dos Titãs, também nos chama atenção para isso: A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. Sim, temos direito! Direito a termos um ócio criativo, à cultura e também direito a descansar…

No evangelho Jesus sentencia (v. 15b) que ainda que alguém seja muito rico, sua vida não está garantida pelos seus bens¹, ou ainda que ela não consiste na abundância de bens².

Na parábola contada por Jesus ainda vemos um homem rico que seu projeto de vida é primeiro acumular riquezas e depois de guardadas, descansar, comer, beber e se divertir. Mas Jesus lembra que sua morte pode vir antes disso. E aí, a vida se resumiu em trabalhar, acumular e acumular… Jesus que veio para que tenhamos vida e vida em abundancia (conf. Jo 10, 10b) não estaria nos mostrando que temos que viver plenamente hoje? Além de trabalhar, descansar, comer, beber e se divertir, que outros verbos poderíamos acrescentar a esta lista para que pudéssemos viver hoje com dignidade?

É bom lembrar que em outros momentos (Mt 6, 25-34) Jesus nos pede para sermos como as aves do céu e os lírios do campo, pois cada dia tem suas próprias preocupações. E diz mais, para que busquemos o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas (nossas necessidades), nos serão acrescentadas. E assim poderemos salmodiar: “Que esteja sobre nós a tua graça, Senhor nosso Deus! Consolida a obra de nossas mãos.” (Sl 89, 17).

*Por Pedro Caixeta: CEBI GO / Coordenador Nacional da PJ (2006 – 2009)

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¹Na tradução da Bíblia Pastoral
²Na tradução da CNBB.

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