Construirei minha igreja

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“… construirei minha igreja.”

Solenidade de São Pedro e São Paulo, apóstolos:
1ª leitura At 12, 1-11
Salmo 33
2ªleitura 2Tm 4, 6-8.17-18
Evangelho Mt 16, 13-19

Pedro Caixeta.¹

A liturgia deste final de semana nos convida à solenidade de dois grandes nomes na história da Igreja: São Pedro e São Paulo. A tradição nos conta que eles são duas colunas de nossa Igreja e ao celebrá-los estaremos fazendo memória de suas vidas e martírios. Em Roma, já nos idos dos anos 60 d.C, Pedro é crucificado e Paulo é decapitado.

Em Atos dos Apóstolos, encontramos um relato no mínimo intrigante se contextualizarmos para os dias atuais. Na passagem, a igreja primitiva, os/as seguidores/as de Jesus de Nazaré, o Ressuscitado, já começam a incomodar o Império Romano, a vivência da proposta do Reino pregado por Jesus de certa forma se contrapõe ao modelo vigente. Tiago, um dos apóstolos, uma das lideranças, já fora morto a golpes de espada (At 12, 1-2). E como isso agradava aos judeus (v. 3), Pedro agora também estava preso e seria apresentado ao “povo”. Mas eis que um anjo do Senhor vem ao seu auxílio e o liberta das correntes, dos soldados, da prisão. Enquanto Pedro estava preso a Igreja-Comunidade estava unida em oração. Mas o fato é que terminamos esta leitura com um Pedro, liberto das mãos de Herodes e de tudo o que o povo judeu queria fazer com ele (v. 11), ou seja, fugitivo da condição de preso do Império Romano. Podemos nos perguntar quem hoje é Pedro, quem é Herodes e quem são os judeus, mas voltando ao período bíblico, a garra do opressor não deixa Pedro em paz, e anos depois, ele sofre seu martírio.

Pedro, que era discípulo de Jesus teve alguns deslizes², contudo entendeu seu papel na construção do Reino, e assim o protagonizou, inclusive sendo a pedra na qual Cristo construiria sua Igreja (Mc 16,18a). Esta autoridade e reconhecimento de Jesus a Pedro se dá depois que este, professa sua fé em Jesus como sendo o Messias, filho do Deus vivo. Mas nos atentemos ao fato de que a Igreja é de Cristo, Pedro é apenas instrumento para a edificação da Igreja.

Também Paulo, que era (Saulo) um perseguidor dos cristãos, se converte transformando-se em uma das figuras mais importantes da igreja primitiva, sendo responsável por animar comunidades cristãs em diferentes localidades e realidades, vai também sofrer as consequências de ser fiel ao Evangelho de Jesus Cristo, de ter combatido o bom combate e de ter conservado a fé (2Tm 4, 7).

Estas duas figuras conviveram juntas: a vida doada para continuar o anúncio da Boa Nova e o fazer missão levando a pessoa e a proposta de Jesus os aproximou, o que não significou que a relação entre os dois não tenha tido tensões, como exemplificado no relato do Concílio de Jerusalém³ .

Os modelos de igrejas representados por Pedro e Paulo têm muito a nos dizer hoje, mas devemos tomar cuidado para que nossas leituras não sejam mais excludentes que inclusivas. Muitos/as usam o texto do Evangelho deste domingo, para fundamentar que esta Igreja é melhor que aquela. Ora, o termo bíblico original – eklesia, do grego, seria melhor traduzido por assembleia do que por igreja. Assim, Pedro é aquele que deve dar estabilidade e firmeza a comunidade dos/as seguidores/as de Jesus. A Igreja enquanto instituição religiosa só vai aparecer depois da consolidação das primeiras comunidades cristãs, por volta dos anos 80.

Ao receber as chaves do Reino dos Céus, Pedro pode ligar e desligar (Mc 16, 19). Dar liga, é algo que nossas mães e avós sabem muito bem o que significa. Pedro podia então, dentro da proposta de Reino instaurado por Jesus, dar liga, acrescentando ou não ingredientes à comunidade: fraternidade, partilha, vida eram bem vindos; opressão, injustiça, segregação não; os primeiros estavam ligados, estes últimos desligados.

Assim por dar liga ao reino, e serem fermentos na massa, Pedro e Paulo foram martirizados. Estamos às vésperas da Romaria dos/as Mártires da Caminhada, na Prelazia de São Félix do Araguaia (16 e 17/07 em Ribeirão Cascalheira/MT). Como a história dos mártires de nossa época nos inspira? Como dar liga em nossas comunidades hoje, para fazermos delas verdadeiros lugares de profecias contra os impérios e sistemas vigentes? Como vivemos nossa missionariedade, nos desafiando a sairmos de nosso lugar de conforto e segurança para irmos onde haja a necessidade da Boa Notícia?

Por fim, vale lembrar que hoje temos como papa, sucessor de Pedro, Francisco. Valeria muito conversarmos como ele hoje nos inspira a viver e a buscar o Reino de Deus, dando liga à humanidade e sendo alicerce para mudanças inclusive na própria Igreja Católica Romana que deixa esta casa mais segura, sendo construída na rocha e não na areia.

 

[1] Pedro Caixeta: CEBI GO / Coordenador Nacional da PJ (2006 – 2009)

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[2] Analise as atitudes de Pedro nas seguintes passagens: Mc 8, 27-33; Mc 9, 2-13; Jo 13, 1-11; Mt 26, 69-75;.
[3] Veja em At 15.

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