Pastoral da Juventude – A COLINA DOS 40 ANOS

Sempre é tempo de memória. Quem cuida da memória é mais feliz.

40 anos

Por Hilário Dick

Sendo Igreja 40 anos, construindo a Civilização do Amor como Pastoral da Juventude no Brasil, “não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4,20). Queremos, Pai dos Céus e dos Universos, no topo da colina dos 40 anos, celebrar a nossa memória. Como ação organizada da Igreja florescemos e crescemos pelos vales de muitos cantos, vestida de diversas cores, levando no peito um coração vermelho de Igreja acolhedora e profética. Celebrar esta memória não é só bonito; é uma lição de Bíblia que carregamos em nós.

Brotando e crescendo aqui e acolá, sempre procuramos ter um coração de pobre, com cheiro de terra, com carinho pelas diversas raças, com ternura, cantando e sofrendo as milhares de dores das juventudes e do povo, com a bandeira tremulando em cores de libertação. Brotamos e crescemos, Pai e Mãe amados, no Nordeste com suas Virgens Marias, seus mártires, seus Henriques, seus poços vazios, suas fomes e alegrias. Que nos abençoem as juventudes heroicas daquelas terras, os Helders, as Margaridas e os Zumbis! Muita coisa aprendemos naqueles sertões, com aqueles corações bonitos, falando de luta, sempre procurando ser populares.

Brotamos e crescemos, igualmente, no coração do Brasil se esticando para as grandes periferias, em meio aos pantanais e cerrados, aprendendo que a dor, naquelas terras não é menor que em outros terreiros. Que o sangue de todas as juventudes exterminadas nas goiânias e naquelas imensidões, nos abençoe com a ajuda dos Florisvaldos e Albanos! Tantas romarias de mártires deste solo sagrado estejam conosco. Entre as muitas distâncias, no meio de cajueiros, junto com os santos e santas daquelas terras, caminhamos no Caminho da Trindade, a melhor das comunidades…

A flor da Pastoral da Juventude também aconteceu, desde cedo, em meios às águas e aos verdes do norte com Círios, Parintins e ribeirinhos. Terra de lutas e seringueiros corajosos, de Chicos Mendes, de belezas divinas, mostrando ao mundo que a imensidão não limita, mas abre horizontes, com a juventude sonhando com aiakás e ecologias respeitadas. Nem falamos das Marias nem das Mães Terras nem das Pachamamas que moram no coração do Norte e nem sabemos os nomes de tanta gente que soube dar a vida pelo que acreditavam.

Mais para além daquelas montanhas, quantas memórias bonitas no meio de tudo que é mineiro, capixaba com uma Pastoral atrevida, abençoada pelas Lapas, profetas e inconfidentes e por todas as santas padroeiras e madrinhas que fazem do coração da juventude um oratório. É pouco recordar os Gabriéis, os Lucianos,as Nhás Chicas, os Zé Martins e a multidão de tantas juventudes que desejavam e desejam viver. Queremos celebrar o aqui e o acolá, os uais e os ós. Tanta dor, tanta alegria que ninguém sabe contar.

No topo da colina dos 40 anos enxergamos os planaltos onde se deu uma das primeiras vontades de articular-se e de sonhar uma proposta de evangelização da juventude em nossa terra. Que a Virgem de Aparecida e a Virgem da Piedade representem todas as Marias que a juventude sabe carregar em procissão, muitas vezes cantando a coragem do Magnificat. Em meio às urbanidades com as juventudes plantando utopias, sabemos que no “livro das memórias” (Ex 17, 14) não podem ser esquecidas as batalhas dos pinhais, das sojas, dos sem-terra, dos sambaquis, dos contestados, dos iguaçus e de todas as caminhadas que a Pastoral da Juventude fez lutando pela terra, pela ecologia, pelas águas e pelo direito de ser feliz.

Recordar e celebrar 40 anos não é coisa ultrapassada! Nosso repúdio, aqui das alturas dos 40 anos, a todos que desejam que apaguemos da memória não só datas, mas causas, conquistas e sofrimentos. Malditos os que desejam pisotear nossa identidade. Sim, no alto da colina dos 40 anos enxergamos as coxilhas, as juventudes querendo espaço, estudo, direito e dignidade sempre com as bênçãos das Fátimas, das Caravaggios, das Medianeiras e da coragem dos Sepés, sucedidos por Loivas, Lauras, Raquéis, Celsos e Ruis e pelos enormes encontros regionais animados por sanfonas, milhares de violões e outros trombones criados pelo entusiasmo. Foi lá que a juventude conviveu com um instituto que era a casa dela e cuja saudade anima os passos que se vai dando.

Como diz Isaías, “nossa alma suspira pelo teu nome, Senhor, e tua lembrança” (Is. 26, 8). Olhando o horizonte, vamos aprendendo a celebrar, todo dia, a memória da doação que aprendemos de Jesus Cristo, nosso Senhor. A celebração da memória não é só uma opção. Além de voltar às raízes, é festejar a característica do coração do Povo de Deus com Améns, Axés, Aleluias de uma Pastoral que deseja aprender a ser Igreja pelos caminhos das Américas. Sim, Pai e Mãe amados, movidos pelo Espírito, “não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”.

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