Maria, Marta, mulheres, não tenham medo

 Maria, Marta, mulheres, não tenham medo

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“Maria, Marta, mulheres, não tenham medo.”

Primeira Leitura (Gn 18,1-10a)
Salmo 14
Segunda Leitura (Cl 1,24-28)
Evangelho (Lc 10,38-42

Por Ana Selma da Costa*

Estando em viagem, entrou num povoado pertinho de Jerusalém, Betânia. Jesus chega à casa de pessoas amigas. Lugar de hospitalidade, de aconchego, de cuidado e descanso. Onde ele não era o Mestre, mas o amigo, o companheiro de conversas.

Lugar de comunhão, partilha de vida e de pão.

Era casa de Marta, provavelmente era a mais velha, por isso a casa tinha o seu nome.
Em João 11, 5, encontramos a informação de que Jesus amava Marta, Maria e Lázaro.
Casa de mulheres.

O texto não fala em Lázaro, nem nos apóstolos de Jesus. Era um encontro de Jesus com suas amigas.

Provavelmente, Jesus vai encorajar as irmãs, diaconisas da Igreja em Betânia. Pois, uma nova onda de pensamento está invadindo as comunidades. Filosofia grega e desenvolvimento do pensamento judaico. Alma separada do corpo. Sagrado separado do profano. Céu separado da terra. Mulher inferior ao homem. Algumas pessoas do grupo de Jesus deixavam-se levar por esta nova onda. Diziam que lugar de mulher não era na diaconia, na coordenação da comunidade, no ministério da Palavra e da Fração do Pão. Diziam que mulher era para ficar cozinhando e ouvindo. Tinha até gente que dizia que mulher nunca dava certo porque sempre acabava brigando com outra mulher.

Jesus foi à casa de Marta. Sempre tinha desejado no seu grupo um discipulado de pessoas iguais, homens e mulheres vivendo o amor e o serviço aos/as pobres. E agora, em nome da filosofia, queria-se expulsar as mulheres do apostolado.

Maria senta-se aos pés de Jesus igual os discípulos no Oriente se sentam aos pés de seu mestre.

Marta estava ocupada pelo muito serviço. Serviço, do grego diakonia. Porém, para as mulheres, sempre traduzido apenas como serviço ou serviço doméstico. Mas diaconia não é serviço doméstico. É serviço comunitário, eclesial (At6,1-6).

Marta e Maria discípulas e diaconisas.

“Marta, Marta. Assim como em 1Sm 3,10. Tu te inquietas e te agitas por muitas coisas;”
Marta, não se desespere! Continue seu serviço diaconal, anuncie a Palavra que quebra a lógica do poder. Palavra que resgata a memória dos pequenos e das pequenas.

Maria escolheu a parte melhor: escutem, sejam desconfiadas, afinem os ouvidos do coração para reconhecer as histórias escondidas, sufocadas, apagadas.

Maria, Marta, mulheres, não tenham medo. Continuem vivendo, ouvindo e anunciando a Palavra que gera vida nova. Novas relações! Uma Igreja e uma sociedade de iguais! É o fim do poder violento do patriarcado que silencia mulheres e torna invisível seus trabalhos, suas ações e suas lideranças nas comunidades.

Jesus vai à casa de Marta, reafirmar um compromisso que cada uma e cada um fazia quando se comprometia viver em um outro modelo de sociedade, de como viver o Reino: desse modo não existe diferença entre judeus e não judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todas e todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus (Gl 3,28).

 

*Ana Selma da Costa é teóloga, compõe a coordenação estadual e faz parte da equipe de assessoria do Cebi-CE, é facilitadora na Escola de Pastoral Catequética (Espac) e assessora da Pastoral da Juventude na Arquidiocese de Fortaleza.

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1 Comment

  • Maravilhosa reflexão, obrigada muito esclarecedora

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